Postos da Argentina limitam quantidade de combustível para brasileiros que cruzam a fronteira
05-11-2021

Foto: Zito Terres/RPC
Foto: Zito Terres/RPC

Postos de combustíveis de Porto Iguaçu, na Argentina, estão limitando a quantidade de abastecimento nas bombas, nesta quinta-feira (4), para estrangeiros. A medida foi adotada após muitos brasileiros começarem a cruzar a fronteira, pela Ponte Tancredo Neves, por Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná.

Rebeca Moraes

Por RPC Foz do Iguaçu

Segundo os consumidores, o abastecimento no país vizinho é atrativo porque a gasolina tem sido encontrada pela metade do preço praticado no Brasil.

Com a alta demanda de brasileiros e paraguaios, alguns postos ficaram desabastecidos no município.

Por isso, a Argentina estabeleceu a cota de 15 litros de combustível para veículos estrangeiros que abastecem em Porto Iguaçu, cidade com cerca de 80 mil habitantes.

“Estamos tentando aumentar a produção, mas lamentavelmente temos uma cota de abastecimento. Ou seja, não nos permitem mais do que uma certa quantidade de combustível, porque o preço está muito baixo, e o barril do petróleo subiu para 80 dólares e aqui mantemos a 60 dólares”, explicou o representante da Câmara de Combustíveis de Missiones, Faruk Jalaf.

Para organizar melhor o atendimento na cidade argentina, os postos também têm feito filas exclusivas para moradores e estrangeiros.

Preço atrativo

Em alguns dos postos procurados pelos brasileiros, o litro da gasolina super, que corresponde à aditivada no Brasil, tem custado em média o equivalente a R$ 3,20 nesta quinta.

Em compensação, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), em Foz do Iguaçu, o preço médio do litro da gasolina está em R$ 6,27.

“Vale a pena. A gasolina do Brasil está muito cara, está R$ 6,30. Compensa vir na Argentina, está metade do preço”, explicou o motorista Jhonatan de Oliveira.

Entretanto, cruzar a fronteira não é tarefa simples. Uma determinação da Polícia Federal (PF) exige que os brasileiros registrem a saída do país.

Na aduana argentina são cobrados documentos pessoais, comprovação de vacinação completa há pelo menos 14 dias e um teste negativo de Covid 19 para quem vai além da cidade de Porto Iguaçu.

Conforme os motoristas, a espera nas filas do posto e da aduana pode passar de quatro horas. Mesmo assim, esse é um tempo que muitos brasileiros não se importam de esperar.

“Para quem quem precisa compensa, né? Quem gasta muito, né? Eu gasto um, dois, três tanques e meio por mês”, disse o motorista Marcos Gomes.

Combustível nos dois países

No Brasil, a gasolina acumula alta de 73,4% em 2021. Foram onze aumentos de janeiro até agora.

Segundo o professor de engenharia de energia Ricardo Hartmann, o Brasil e a Argentina têm políticas diferentes de preços.

Enquanto a Petrobras mantém os valores alinhados ao mercado internacional, o governo argentino não repassa todos os aumentos ao consumidor.

“Existem mecanismos adotados pelo governo para tentar amortecer essa flutuação do mercado internacional. Todo mundo sabe que o petróleo varia no mercado internacional, ele é muito volátil.”

O professor destacou ainda o uso de veículos movidos sem gasolina no país vizinho.

“A Argentina também tem uma questão peculiar, que grande parte dos veículos, principalmente na grande Buenos Aires e Rosário, onde tem a maior parte da população, os veículos são movidos a gás natural. A argentina tem gás natural, então eles são autossuficientes. O mercado da argentina é um pouco diferente, ele não sofre tanto as oscilações internacionais.”

Conforme o professor, a composição da gasolina que chega ao consumidor também é diferente nos dois países.

“No caso da Argentina, é composta de 78% de gasolina que vem da refinaria, 12% de etanol e 10% de MTBE, que é um composto oxigenado, que é utilizado também como como antidetonante”, explicou o professor.

Entretanto, esse aditivo que ajuda a economizar a curto prazo, pode dar prejuízo financeiro com o passar do tempo.

“Quando você abastece o seu veículo com uma gasolina advinda da Argentina, que tem uma composição diferente desta feita com mapeamento do Brasil, o motor vai funcionar naquele instante, mas em longo prazo você pode ter prejuízo porque a injeção eletrônica começa a não entender o que está acontecendo. Ela tenta atuar, mas não está preparada para aquele combustível. Então, a longo prazo, o motor pode sofrer danos de maior ou menor grau dependendo do tipo de motor, inclusive do catalisador que ajuda a diminuir os poluentes.”

Do site: Cenário MT