Pragas de solo não fazem quarentena e destroem os canaviais o ano todo
14-04-2020
Reduzem produtividade agrícola, longevidade dos canaviais e qualidade da matéria-prima
A natureza não para com o Coronavírus. As pragas de solo, por exemplo, continuam se alimentando e se fortalecendo como um dos principais problemas fitossanitários da cana-de-açúcar.
Esse grupo pode ser caracterizado como insetos que atacam o sistema radicular ou outras partes das plantas, mas que apresentam todo o ciclo, ou pelo menos uma das fases dele, no solo.
Dentre as principais pragas de solo associadas à cultura da cana-de-açúcar, destacam-se o Sphenophorus levis, Migdolus, pão-de-galinha, larvas-arame, Naupactus spp., crisomelídeos, Percevejo-castanho, pérola-da-terra, broca-gigante e Hyponeuma. De forma geral, pode-se afirmar que os prejuízos causados por essas pragas são enormes, pois o foco de seus ataques é o sistema radicular mais nobre da cana - representado pelas raízes mais profundas e bases de colmos -, que são responsáveis por garantir a brotação e a produtividade das soqueiras. Em muitos casos, a redução na produtividade chega a atingir 25 toneladas de cana por hectare (TCH) em áreas bastante infestadas.
Pragas de solo atacam o sistema radicular mais nobre da cana
Foto: Divulgação Global Cana
O complexo de cupins já foi considerado como a praga de solo mais importante do segmento, gerando grandes impactos na produtividade agrícola e na qualidade da matéria-prima. Entretanto, como a eficácia dos inseticidas tem se mostrado alta, em muitos locais de produção de cana os cupins já não são mais considerados pragas importantes para a cultura.
SPHENOPHORUS LEVIS E MIGDOLUS ASSUMEM O POSTO DE PRAGAS DE SOLO CHAVE PARA A CANA-DE-AÇÚCAR
O Sphenophorus levis é considerado, atualmente, como a mais importante praga de solo da cultura da cana-de-açúcar, devido aos danos causados, dificuldade de controle e ritmo acelerado de dispersão pelas lavouras de diversos estados. Explosões populacionais se tornaram frequentes em 2017, inclusive em canaviais antes livres da praga. Infestações que pularam de 3% de tocos atacados para 25% e áreas de segundo corte produzindo 40 toneladas por hectare foram algumas das situações encontradas.
Sphenophorus levis reduz drasticamente a produtividade da cana e pode levar produtor a reformar o canavial antecipadamente
Foto: Divulgação Global Cana
As larvas desse inseto se abrigam no interior do rizoma e danificam os tecidos. A partir daí, pode ocorrer a morte da planta e falhas nas brotações das soqueiras, causando prejuízos na ordem de 30 toneladas de cana por hectare. A longevidade do canavial também é reduzida, obrigando reformas extremamente precoces.
Consultores afirmam que o Sphenophorus levis deve ter atenção redobrada em virtude da forma antropológica de dispersão, através do transporte de mudas, equipamentos sujos, entre outros fatores.
Outra praga de solo que causa elevada preocupação aos canavicultores brasileiros é o Migdolus, responsável por danos expressivos à cultura. Entretanto, esta praga está distribuída em menores áreas nos estados de São Paulo, Parará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás.
Estima-se que os prejuízos econômicos causados pelo Migdolus sejam na ordem de 30 t/corte/ano, além da redução da longevidade dos canaviais
Foto: Divulgação Global Cana
Os danos à cana-de-açúcar são causados por suas larvas, que se alimentam do sistema radicular e dos internódios basais, destruindo-os totalmente. Em função da redução das raízes, há a diminuição da absorção de água e nutrientes. Em períodos de estresse hídrico, facilmente é possível observar reboleiras de plantas amareladas, secas e também mortas, um indicativo da presença da praga. Estima-se que os prejuízos econômicos causados pelo Migdolus sejam na ordem de 30 t/corte/ano, além da redução da longevidade dos canaviais.
BARREIRA QUÍMICA É TÉCNICA ESSENCIAL PARA CONTROLE DE CUPINS, MIGDOLUS E SPHENOPHORUS LEVIS
Para o controle de pragas de solo, uma das soluções mais adotadas é o sistema de barreiras químicas, que tem apresentado resultados bastante satisfatórios, principalmente quando aplicado de forma correta e visando o controle de cupins, Migdolus e Sphenophorus levis.
Enrico Arrigoni: “A barreira química consiste em impedir ou limitar o acesso das pragas às plantas”
Foto: Arquivo CanaOnline
O engenheiro agrônomo Enrico Arrigoni, consultor do Dr. Cana, explica que esse sistema consiste em impedir ou limitar o acesso das pragas às plantas, ou partes destas de interesse econômico, por meio de camadas de inseticidas ou barreiras aplicadas. O emprego dessa técnica desempenha ainda um papel preventivo no controle das pragas. “Nesse caso, cumpre a mesma função do inseticida que é aplicado no alicerce de uma casa, na construção civil, com o objetivo de evitar o ataque de cupins a móveis, portas e até mesmo a estruturas de madeiras da residência”, compara.
Atualmente, o controle de cupins por meio de barreira química é o exemplo mais conhecido no setor canavieiro nacional. É realizado mediante a aplicação de calda de inseticida sobre os toletes distribuídos no sulco de plantio, atingindo as bordas dos sulcos abertos e cobrindo os toletes com o solo tratado com inseticida. A barreira é formada pelo solo pulverizado, protegendo os toletes e as bases de colmos.
DISTRIBUIÇÃO DE FORMAS BIOLÓGICAS DE MIGDOLUS NO PERFIL DO SOLO
Fonte: Arquivo Enrico Arrigoni
Para o controle de Migdolus, a barreira química pode ser usada tanto no preparo do solo quanto no sulco de plantio. Na primeira, a técnica consiste em aplicar inseticidas em doses elevadas e na maior profundidade possível visando: criação de uma camada com elevada concentração de ingrediente ativo e com longo residual; proteção do sistema radicular presente até a camada inseticida aplicada; proteção das soqueiras, impedindo que a larva atinja as bases de colmos; e controle dos adultos nas próximas revoadas do ano de preparo.
Arrigoni alerta que é imprescindível um planejamento bem feito e avaliação da qualidade das operações, visto que novas oportunidades podem ocorrer somente na próxima reforma. Ainda segundo ele, não se tem a confirmação que há controle nas revoadas que ocorrem nos anos seguintes, mas pode ocorrer em função do residual do inseticida e dose utilizados.
Para o controle de Migdolus, a barreira química pode ser usada tanto no preparo do solo quanto no sulco de plantio
Foto: Divulgação Usina Santa Terezinha
Quando utilizada no sulco de plantio, a técnica de barreira química para o controle de Migdolus consiste em aplicar inseticidas em doses elevadas sobre as mudas já distribuídas no sulco, em operação conjunta ou não com a cobrição, permitindo uma redução das chances das larvas de Migdolus danificarem as bases de colmos e criando a possibilidade de controle até o terceiro ano após o plantio.
“Caso não tenha sido feito o controle no preparo de solo - ou não tenha sido bem feito -, a aplicação no sulco apresenta-se como a segunda melhor alternativa. Dependendo da época de plantio, torna-se a única opção. Lembrando, porém, que não existe melhoria de performance se a aplicação for feita no sulco nas áreas que receberam o inseticida no preparo do solo”, observa o consultor do Dr. Cana.
Barreira química é mais uma ferramenta de manejo para o controle do Sphenophorus levis
Foto: Divulgação Global Cana
A barreira química também tem sido uma das apostas para combater o Sphenophorus levis, podendo ser usada no sulco de plantio e na base de brotos, perfilhos e colmos. No primeiro caso, a proteção dos toletes ou rebolos deverá ocorrer pela ação sistêmica do produto ou pela contaminação de adultos que se abriguem no solo, próximos aos brotos da cana. “Os melhores resultados são obtidos em áreas com altas infestações de adultos, quando a eliminação mecânica de soqueiras não foi executada - ou foi mal executada. Lembrando que a aplicação deve ser dirigida também às bordas do sulco, não somente ao centro”, destaca Arrigoni.
Já as aplicações na base de brotos, perfilhos e colmos reduz a possibilidade de fêmeas realizarem a ovoposição nestes locais, seja pela repelência ou pela intoxicação de adultos. Os produtos que possuem ação sistêmica controlam as larvas neonatas quando as fêmeas conseguem efetuar a ovoposição. Enrico Arrigoni afirma que as aplicações devem ser dirigidas às bases com o bico ‘cone cheio’. “No caso da aplicação na base dos colmos, devem ser utilizados trâmpulos ou similares, com pingentes.”
Fonte: CanaOnline

