Previsão para o Plano Safra ficou acima das expectativas
28-06-2023

Foto: Luciana Paiva
Foto: Luciana Paiva

Em meio aos esforços do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se reaproximar do agronegócio, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, comemorou que os valores previstos nos dois Planos Safra - o voltado aos grandes e médios produtores, anunciado ontem, e o da agricultura familiar, que será detalhado hoje - ficaram acima do que o setor havia pedido ao governo.

Após o episódio com organizadores da Agrishow em maio, quando Fávaro declarou ter sido "desconvidado" para a abertura do evento, ao qual o ex-presidente Jair Bolsonaro compareceria, o ministro afirmou, em entrevista ao Valor, que o agronegócio vive um novo momento com Lula.

Em julho, Fávaro vai liderar uma missão para Coreia do Sul e Japão com empresários do setor para ampliar mercados para as proteínas brasileiras, em especial a carne bovina. Além disso, ele acredita que, até agosto, será possível anunciar a abertura do mercado chinês a novos frigoríficos - a China é o maior cliente do agro nacional.

"O ambiente vem melhorando gradativamente", disse Fávaro. "Já não vejo rejeição a mim em lugar nenhum [em eventos] do agro, e posso garantir que, nos próximos seis meses, o presidente Lula poderá visitar qualquer feira do agro, qualquer evento do agro, que será muito bem recebido".

Segundo o ministro, a prova dessa reaproximação se revela "em fatos, não em discursos". Ele cita o volume recorde de recursos do Plano Safra como um gesto relevante do governo ao setor. "As pessoas começam a se pautar pelo racional. Essa aproximação [do setor com Lula] vai acontecer de forma natural", disse. "Todos os produtores que entenderem que a eleição acabou e que quiserem olhar para o futuro e discutir um setor mais forte e mais competitivo têm as portas abertas com o ministério e com Lula".

Ontem, o governo anunciou R$ 364,2 bilhões para o Plano Safra 2023/24 da agricultura empresarial, que atende médios e grandes produtores. Nesta quartafeira, o Ministério do Desenvolvimento Agrário vai detalhar o volume de recursos para a agricultura familiar, que deverá passar de R$ 70 bilhões. Somados, os dois planos chegam a cerca de R$ 435 bilhões.

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) havia pleiteado R$ 404 bilhões para pequenos, médios e grandes produtores. A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), por sua vez, reivindicou R$ 410 bilhões. Houve críticas, no entanto, à falta de informações sobre orçamento para o seguro rural e à manutenção dos juros e dos limites individuais para investimentos.

Sobre os novos mercados asiáticos, o ministro disse acreditar que até o fim do ano o Brasil estará habilitado a vender carne bovina para os japoneses. Ele explicou que Coreia do Sul e Japão são mercados que podem remunerar até melhor do que o chinês, mas que, no momento, eles importam do Brasil somente carnes de aves e suína. Do volume total de carne bovina que esses países consomem, 93% saem dos Estados Unidos e da Austrália.

Fávaro vê oportunidade de abertura à proteína brasileira por causa da pressão inflacionária do pós-pandemia. Ela afetou atacadistas japoneses, que começaram a cobrar do governo a ampliação do leque de fornecedores internacionais - e a percepção é de que a carne brasileira é de boa qualidade e mais barata. Em sua recente passagem pelo Japão, em maio, durante a reunião do G-7 ocorrida em Hiroshima, Lula discutiu com autoridades japonesas a abertura desse mercado ao agronegócio brasileiro.

Um obstáculo sempre foi o fato de o Japão só importar carne bovina de regiões livres de febre aftosa sem vacinação. Fávaro observou, entretanto, que já houve exceções. Ele citou o exemplo do Uruguai, que sempre vendeu carne bovina para os japoneses e que, após identificar casos de aftosa, voltou a vacinar o gado, o que, ainda assim, não interrompeu o comércio entre os uruguaios e o país asiático.

O ministro lembrou que vários Estados brasileiros já são zonas livres de aftosa sem vacinação e que estariam prontos a acessar o mercado japonês. O país exige que os fornecedores de carne bovina cumpram um protocolo de dez fases, e o Brasil já cumpriu quatro das seis fases mais complexas. Na missão deste mês, Fávaro pretende superar a sexta etapa.

Fávaro disse ainda que há boas expectativas para a habilitação de novas plantas frigoríficas para vendas à China. O governo brasileiro entregou uma relação de 62 unidades aos chineses. Como eles consideraram a lista muito longa, ela será reduzida. O Ministério da Agricultura aguarda a manifestação da China sobre qual o número adequado. "Nós vamos filtrar por ordem cronológica, e vamos fornecer essa lista até agosto, daí teremos a ampliação dessas habilitações", disse o ministro.

No último mês de março, os chineses anunciaram a habilitação de quatro novas plantas brasileiras. Ao longo deste ano, a China derrubou os embargos a outros seis frigoríficos que estavam impedidos de vender ao país.

Fonte: Valor Econômico
Extraído do Clipping da SCA