Produção de cachaça é dominada por agricultores familiares em MG
03-07-2024

Minas Gerais é o Estado com mais cachaçarias legalizadas no país, com 504 estabelecimentos registrados — Foto: Wenderson Araujo/CNA
Minas Gerais é o Estado com mais cachaçarias legalizadas no país, com 504 estabelecimentos registrados — Foto: Wenderson Araujo/CNA

Levantamento revelou que 87% dos alambiques de cachaça mineiros são de pequeno porte

Por Cibelle Bouças — Belo Horizonte

Minas Gerais é o Estado que mais produz cachaça de alambique no Brasil, com 13,5 milhões de litros por ano. E esse processo tradicional de fabricação é dominado por agricultores familiares do Estado, é o que mostra um diagnóstico do setor, realizado pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais.

O levantamento revelou que 87% dos alambiques de cachaça mineiros são de pequeno porte, com uma produção de até 800 litros da bebida por dia. E 45% dos alambiques têm menos de 5 hectares cultivados com cana-de-açúcar.

“A maior parte da produção da cachaça do Estado, como acontece na produção do queijo, está nas pequenas propriedades, com nossos micro e pequenos produtores”, afirmou o vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões (Novo), à Globo Rural. Ele observou que o diagnóstico foi feito para conhecer melhor a cadeia produtiva e definir políticas públicas para estimular o desenvolvimento do setor.

O estudo analisou as respostas de 106 estabelecimentos de cachaça de alambique registrados no Ministério da Agricultura e Pecuária. De acordo com o Estudo, Minas Gerais é o Estado com mais cachaçarias legalizadas no país, com 504 estabelecimentos registrados, o que equivale a 41,4% das cachaçarias do país.

No ano passado, foram abertos em Minas Gerais 36 novos estabelecimentos, aumento de 7,7% em relação a 2022. O município com maior número de alambiques é Salinas, com 24 unidades. Em seguida está Alto do Rio Doce, com 20 alambiques, e Rio Espera, com 16. No Brasil, o número de cachaçarias avançou 7,8%, para 1.217 estabelecimentos, de acordo com o Anuário da Cachaça 2024, divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária na semana passada.

Para o vice-governador, o diagnóstico indicou a importância do Estado continuar investindo no fortalecimento da assistência técnica, capacitação e certificação dos pequenos produtores. “Precisamos de uma atuação firme e presente da Emater, da Epamig, do IMA, ao lado da nossa Secretaria, para que o setor da cachaça seja o nosso novo setor da cerveja artesanal, seja agora um foco para a gente continuar expandindo a capacidade de geração de renda da pequena propriedade em Minas Gerais”, afirmou.

Simões acrescentou que há ainda muita informalidade na produção de cachaça de alambique e ele associa esse cenário à dificuldade de acesso dos produtores aos meios de formalização da atividade. “O pequeno produtor só é informal porque ele não tem acesso aos meios de formalização, como era no café, como era no queijo, no leite. Quando [o pequeno produtor] se formaliza, ele tem um aumento considerável do valor de venda do seu produto, porque ele já tem qualidade, o que falta é a certificação”, afirmou o vice-governador.

Expocachaça

O diagnóstico do setor da cachaça em Minas Gerais será divulgado pelo governo mineiro nesta quinta-feira (4/7), durante a Expocachaça 2024, que será realizado no Centerminas Expo, em Belo Horizonte, entre os dias 4 e 7 de julho. Em sua 33ª edição, o evento tem por objetivo proporcionar acesso ao mercado para pequenos produtores de cachaça e produtores artesanais de vinhos, cervejas, doces e azeites. Ao todo, 250 expositores participam da exposição, levando em torno de 2 mil produtos.

Pela segunda vez, a Expocachaça vai abarcar a Feira Minas + Doce, que terá a participação de produtores de doces mineiros artesanais, com destaque para os doces feitos em tachos de cobre, aulas shows com chefs renomados, e apresentação de 48 produtores de vinhos.

“Tudo foi construído para unir a tradição à inovação, mostrar a doçaria do aspecto tradicional e também o quanto ela avançou e inovou. E não pode faltar o tacho de cobre que é nosso símbolo”, afirmou Rosilene Campolina, chef, professora e curadora da Feira Minas + Doce.

Vinícolas mineiras

E pela primeira vez, a Expocachaça vai receber 20 vinícolas mineiras. “Ficamos felizes com o convite para participar da exposição, estamos animados e ansiosos por esse evento”, afirmou Elcileny Caldas, produtora rural e representante da Associação de Vinícolas Mineiras.

Em Minas Gerais, são 122 vinícolas. Caldas disse que, há três anos o número não chegava a 20. A explosão no número de vinícolas no Estado deve-se principalmente à técnica de dupla poda desenvolvida pela Epamig, que permite trocar o ciclo da videira, para que a colheita seja em julho.

“Para nós traz muita satisfação permitir que esses pequenos produtores possam ter acesso a novos pontos de venda, porque o evento atrai muitos supermercados, empórios e outros estabelecimentos”, afirmou José Lúcio Mendes, presidente da Expocachaça. Ele estima que a edição do evento deve atrair em torno de 20 mil visitantes e gerar negócios da ordem de R$ 30 milhões.

Além da exposição de cachaças, fabricantes de equipamentos para destilarias também apresentam as últimas novidades do setor. Mendes disse que a instalação de uma destilaria completa pode custar de R$ 2 milhões a R$ 10 milhões, dependendo do porte e das tecnologias adotadas.

Cachaça gaúcha

A Expocachaça também contará com a participação de dez produtores de cachaça do Rio Grande do Sul, que se apresentarão em um estande coletivo patrocinado pelo governo gaúcho.

“O Rio Grande do Sul tem uma peculiaridade. Os produtores usam técnicas de destilação alemã e de envelhecimento da indústria vinícola italiana, que dão características diferenças à nossa cachaça”, disse Paulo Ramos, presidente da Associação dos Produtores de Cachaça do Rio Grande do Sul (Aprodecana).

Enquanto a cachaça mineira é envelhecida em barris de madeira de jequitibá, no Rio Grande do Sul, usa-se a madeira da grapia, que causa um amargor maior à bebida e cor mais acentuada, acrescentou Ramos.

Imposto do pecado

O evento é realizado no momento em que os produtores demonstram preocupação com a reforma tributária, mais especificamente com a regulamentação do imposto seletivo, também conhecido como ‘imposto do pecado’, que impõe uma carga tributária maior para produtos considerados supérfluos, incluindo bebidas alcoólicas, cigarros, bebidas açucaradas, entre outros. “Enquanto a gente tiver carga pesada de impostos, o crescimento nunca vai ser exponencial. E quanto mais aumenta a carga tributária, mais produtores vão para a informalidade", disse o vice-governador.

Simões acrescentou que esse aumento na carga tributária deve ser avaliado com certo cuidado. Isso porque, dos destilados consumidos no Brasil, apenas a cachaça é fabricada majoritariamente no país, com uma produção de 1,3 bilhão de litros por ano, representando 68% do mercado de destilados. Outros segmentos, como uísque e vodca, são compostos em sua maioria por itens importados.

“A gente espera que o governo federal tenha sensibilidade para entender que a gente não pode tratar da mesma forma produtos, ainda que considerados supérfluos, mas que são produzidos essencialmente no Brasil, da mesma forma que a gente trata aqueles que vão ser trazidos do mercado estrangeiro, sob pena de matar o mercado de exportação brasileiro que ainda é nascente”, afirmou Simões.

Fonte: Globo Rural