Produtividade nas novas variedades depende de “ambiente de produção” e biologia de solo, diz produtor
09-09-2025

Ricardo Delarco, da RR Agrícola, defende um roteiro técnico — do mapeamento ao corte de soqueira — para extrair TCH e ATR máximos com manejo localizado, silício e micro-organismos

Por Andréia Vital

No 19º Encontro de Variedades de Cana-de-Açúcar e Novas Técnicas de Fertilização, realizado em 3 e 4 de setembro, em Ribeirão Preto – SP, Ricardo Delarco, diretor-sócio da RR Agrícola, apresentou a palestra “Tecnologias para maximização da produtividade das novas variedades de cana-de-açúcar” e sustentou que o primeiro passo para elevar resultados não é a “lista de variedades”, mas o diagnóstico do ambiente de produção. O produtor afirmou que mapear solo e clima em conjunto — e não apenas a carta de solos — redefine decisões de plantio, colheita e nutrição: “é o ambiente que posiciona a variedade, não o inverso”.

Ele descreveu um roteiro operacional em etapas, com foco na alta produtividade:

Ambiente de produção (solo + clima) — além da carta de solos (fertilidade, argila/areia, classe e saturação), entram chuva anual e temperaturas médias diurna/noturna, o que pode mudar a classificação da área e, portanto, o portfólio recomendado.

Sistematização planialtimétrica — combinação de topografia terrestre e drones para modelagem do terreno no escritório e execução em campo, assegurando escoamento, uniformidade e logística.

Escolha varietal por ambiente — Delarco relatou descontinuidade de materiais antigos no portfólio da empresa e priorizou variedades e clones atuais colocados em ambientes C e restritivos. Em ensaios recentes, citou clones e materiais comerciais com produtividade acima de 150 TCH e destacou um clone 5488 que atingiu 149 TCH, superando padrões tradicionais em TCH e competitividade em açúcar por hectare.

Renovação e preparo localizado (não pulverizado) — defendeu eliminação de soqueiras ou cultura intercalar, com preparo localizado para evitar desagregação do solo.

 

Correção em área total — uso de calcário + gesso na razão 2:1 (mistura em moinho), seguido de silício de alta solubilidade (ex.: silicato de cálcio e magnésio com S), para rigidez foliar, controle de alumínio no perfil e resistência a pragas (cigarrinha, broca).

Construção de perfil e bioma do solo — aplicação localizada de condicionadores (matéria orgânica, ácidos húmicos e fúlvicos, ex.: leonardita), mais micro-organismos (apresentados em formulações Microgel) e, quando necessário, barreira química para larvas de solo. Em sua análise, a carga negativa dos ácidos húmicos complexa alumínio, libera fósforo e estimula raízes em profundidade, acelerando a transição de ambiente D para C/B no mesmo ano agrícola.

Adubação de plantio — possibilidade de formular com NPK (ex.: 4-30-10), potássio em fonte “K+” com S, Mg e B, e complemento em cobertura (“quebra-longo”) para fechar K₂O. Alternativamente, MAP (11-52-00), sempre ajustado ao alvo de TCH/ATR. Para boro e zinco, Delarco reforçou estratégias distintas: boro majoritariamente no solo (85–90%) e zinco majoritariamente foliar (85%+).

Corte de soqueira e sanidade — preconizou corte anual de soqueira, acoplado a biológicos (nematicidas, liberadores de fósforo), boro e zinco (em doses e volumes mínimos de aplicação de ≥300 L/ha), evitando “janelas sem cobertura”.

Foliares (out.–dez.) — zinco e magnésio em cloreto (elementos separados), boro de alta pureza, nitrogênio em amida/nítrica/amoniacal, silício foliar (~2 L/ha) como microfilme estruturante da lâmina, e adjuvantes registrados no MAPA.

Eficiência operacional — com preparo localizado e implementos específicos, relatou redução de diesel, maior velocidade operacional e melhor renovação de canaviais, condição que, somada à biologia do solo, eleva TCH e estabiliza ATR.

Ao tratar de resultados de campo, o produtor apresentou comparativos por ambiente com saltos de TCH e açúcar por hectare frente a padrões históricos, inclusive em áreas de baixa argila (≤15%) — ambientes tipicamente “marginais”. Em sua avaliação, o gargalo deixou de ser apenas a adubação NPK: o solo vivo, com perfil físico-químico construído e microbiota ativa, passou a ser condição de entrada para que as novas genéticas expressem o teto produtivo.

Delarco concluiu que “variedade certa no lugar certo” depende de ambiente de produção bem classificado, sistematização precisa, correção e silício, biologia de solo, manejo foliar e de soqueira, além de execução disciplinada. Com esse pacote, afirmou ser possível elevar rapidamente o patamar de TCH e aumentar a tonelada de açúcar por hectare, sem sacrificar longevidade, mesmo sob clima mais errático e pressão biótica crescente.