Produtores de cana estimam prejuízo de R$ 800 milhões com incêndios; especialistas revisam previsão da safra para baixo
06-09-2024
Segundo a Orplana, focos em SP e outras regiões do país prejudicaram mais de 100 mil hectares de produção. Consultoria especializada em agronegócio projeta moagem 10% menor com efeitos na produção de açúcar e etanol.
Por Rodolfo Tiengo, g1 Ribeirão Preto e Franca
Os incêndios que atingiram principalmente o interior de São Paulo e outras regiões do país entre o fim de agosto e o início de setembro devem causar um prejuízo de pelo menos R$ 800 milhões, estima a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), que representa mais de 12 mil canavieiros brasileiros e tem sede em Ribeirão Preto (SP).
A projeção foi divulgada nesta quinta-feira (5) e é mais do que o dobro da que tinha sido divulgada anteriormente, de R$ 350 milhões.
De acordo com a organização, ao todo mais de 2,3 mil focos de incêndios destruíram mais de 100 mil hectares de canaviais e áreas de rebrota, o que prejudica não só a atual safra (veja as projeções de uma consultoria especializada mais abaixo), quanto a próxima.
"Vale lembrar que a quantidade de hectares queimados não contabiliza áreas de APP, reserva legal e pastagens", reiterou a Orplana.
Projeção menor de safra
O número elevado de incêndios nas lavouras também levou a Datagro, consultoria especializada em agronegócio, a revisar para baixo suas projeções para a safra 2024/2025.
A moagem, então prevista para 602 milhões de toneladas no Centro-Sul do país, caiu para 593 milhões, quase 10% menos do que o realizado no ciclo 2023/24.
Em nota divulgada esta semana, a consultoria explicou que, ainda que os impactos dos incêndios estejam sendo contabilizados, a extensão territorial afetada já indica um desafio para a colheita, principalmente porque as usinas precisam moer a cana que foi queimada em até 48 horas para evitar perdas ainda maiores na qualidade da matéria-prima.
Os impactos também devem ser percebidos no rendimento industrial e nos volumes de produção de etanol e açúcar. No caso do açúcar, por exemplo, as usinas devem produzir 39,30 milhões de toneladas e não mais as mais de 40 milhões de toneladas esperadas anteriormente.
Concessionária intensifica trabalho para monitorar focos de incêndio na região de Ribeirão
Onda de incêndios
Os cinco principais estados produtores de cana do Centro-Sul acumulam, de janeiro até esta quinta-feira (5), 28,2 mil focos de incêndio, segundo números do Banco de Dados de Queimadas (BDQueimadas) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O resultado, referente a Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo, é mais do que 100 vezes maior do que o registrado um ano antes, com apenas 270 ocorrências contabilizadas pelos satélites de referência do instituto.
Incêndios no Centro-Sul
Os incêndios ocorrem em meio a uma estiagem prolongada histórica em algumas regiões, com seguidas ondas de calor e temperaturas acima da média e chamas provocadas por ação humana. No estado de São Paulo, por exemplo, ao menos 12 prisões tinham sido confirmadas.
O governo paulista criou um gabinete de crise para combater o fogo, colocou dezenas de municípios em estado de alerta máximo e obteve apoio de aeronaves das Forças Armadas, no fim de agosto.
Mesmo assim, os focos continuam a se alastrar, colocar vidas em risco, causar interdições em rodovias e deixar as cidades tomadas pela fumaça e com níveis de qualidade do ar extremamente críticos.
No auge dos incêndios, no fim de agosto, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) chegou a contabilizar uma concentração de 1 mil microgramas de partículas inaláveis (MP.10) por metro cúbico em Ribeirão Preto, importante região canavieira que é uma das mais afetadas pelo tempo seco e pelo calor.
Nos parâmetros da companhia, o valor representa quatro vezes mais do que já seria considerado péssimo, a pior classificação existente.
Fonte: G1

