Programa Cana IAC chega a três décadas de contribuição para o setor bioenergético desenvolvendo não só variedades de cana
07-11-2024

O Programa Cana lançou mais de 35 variedades de alto potencial biológico, desenvolveu o sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB),  criou um modelo de manejo chamado de “matriz do terceiro eixo” e o Grupo Fitotécnico

Entre o final da década de 1980 e início dos anos 90, a canavicultura brasileira sofreu diversos baques. Estações experimentais foram fechadas, a seção de cana-de-açúcar do Instituto Agronômico (IAC) foi extinta e o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), desmanchado. Esse cenário levou a uma interrupção de todo um ciclo de pesquisa envolvendo a cultura no país.

No entanto, a cana-de-açúcar pareceu não se abater. Os canaviais continuavam a se expandir, e a cultura rapidamente se transformou na principal cadeia agrícola do Estado de São Paulo. Diante desse cenário, apelos pela reincorporação da cana aos projetos do IAC se tornaram constantes. Pesquisadores renomados foram então convidados para criar um plano de ação.

Pery Figueiredo, Marcos Guimarães de Andrade Landell e Mário Pércio Campana se reuniram e desenharam um esboço de um projeto que anos mais tarde viria se tornar o Programa Cana IAC, que em 2024 completou 30 anos de contribuição para o setor bioenergético nacional, com pesquisas nas áreas de manejo varietal, melhoramento genético, ciências do solo, caracterização de ambientes de produção, fitotecnia e manejo de pragas e doenças.

Marcos Landell, que é atual diretor geral do IAC, ressalta a relevada importância do Programa Cana para o segmento canavieiro. “Ao longo dessas três décadas de atuação, lançamos mais de 35 variedades de alto potencial biológico, desenvolvemos o sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB), uma tecnologia fantástica que revolucionou o plantio e acelerou o processo de modernização varietal, e criamos um modelo de manejo chamado de “matriz do terceiro eixo”, que busca mitigar e reduzir a exposição dos canaviais ao déficit hídrico, em especial daqueles com maior potencial de produção.”

Outro marco importante da trajetória de Landell foi a criação do Grupo Fitotécnico de Cana-de-Açúcar, um projeto de 1992 que viria a contribuir ainda mais para o estabelecimento do Programa Cana IAC dois anos depois. “Quando apresentamos o projeto inicial, não havia recursos para colocá-lo em prática. Decidi então criar um grupo de discussão com alguns profissionais do setor para debater temas de interesse mútuo, como espaçamento, variedades, modo de plantio, doenças, pragas e plantas daninhas.”

No início, essas reuniões eram realizadas em bares de Ribeirão Preto/SP, após o fim do expediente. Quase como um happy hour. “Saíamos de lá com os bolsos cheios de anotações feitas em guardanapos”, conta. No entanto, como as esposas dos participantes não estavam gostando muito do local dessas reuniões, o grupo passou a se encontrar num lugar mais sério, na fazenda onde hoje funciona o Centro de Cana do IAC. Tinha início ali um dos mais importantes grupos de estudo do setor bioenergético.