Reforma de canavial com milho: desafios e oportunidades para o produtor
12-04-2024

No Brasil, a área cultivada com cana-de-açúcar é de cerca de 8,3 milhões de hectares, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). São Paulo é responsável por mais da metade desta área, com 4,46 milhões de hectares. Porém, após vários cortes, a área necessitará de reforma e implantação de uma nova cultura para manter um potencial produtivo aceitável. Estima-se que, em média, de 10% a 15% dos canaviais sejam reformados anualmente, o que representa, aproximadamente, de 800 mil a 1,2 milhão de hectares.

Por Ronaldo Gonzaga

Existem várias formas de realizar a reforma, tais como o preparo do solo seguido de um novo plantio de cana-de-açúcar ou rotação de culturas como soja e amendoim. Mas, nos próximos anos, uma cultura que deverá se destacar nesse cenário é o milho. No Brasil, já existem 20 usinas de produção de etanol que utilizam o milho como matéria-prima, distribuídas entre 11 unidades no estado do Mato Grosso, 6 em Goiás, uma em Mato Grosso do Sul, uma no Paraná e uma em São Paulo. Dentro desse grupo, 9 usinas operam exclusivamente com milho, enquanto as 11 restantes se adaptaram para se tornarem usinas “flex”, ou seja, produzem etanol tanto a partir da cana-de-açúcar quanto do milho. Essas usinas moem cana durante o período de safra e utilizam milho na entressafra, reduzindo a ociosidade na indústria.

Para a utilização do milho como rotação à cana, é importante ter em mente algumas orientações. O principal desafio é a semeadura, pois a colheita mecanizada da cana gera um volume substancial de palha depositada na superfície do solo (até 30 toneladas por hectare). Por isso, é necessário o uso de semeadoras específicas para essas condições, apresentando chassis mais altos para permitir a vazão da palha; discos de corte maiores (24 a 26 polegadas); uso conjunto de discos de corte liso e ondulado na mesma semeadora, onde o liso tem maior poder de corte e o ondulado afasta a palha do sulco de semeadura.

O segundo desafio é a adubação nitrogenada. O milho é uma cultura exigente e que demanda grande quantidade deste elemento. Em áreas de palhada crua existe um desafio com a imobilização do nutriente, que é incorporado ao sistema. A decomposição e mineralização dessa palhada realizadas por microrganismos, retorna o nitrogênio imobilizado na palhada para o solo e consequentemente para as plantas.

A escolha dos híbridos é fundamental para uma boa produtividade do milho em uma área anteriormente plantada por cana. Os materiais mais adequados são os que possuem ciclo médio ou longo, alta estabilidade e tolerância a estresse hídrico. Estudos recentes demonstram que a utilização de híbridos modernos apresenta um pico de absorção de nitrogênio na fase vegetativa, mas existe ainda uma absorção significativa após o florescimento. Diante disso, o agricultor pode traçar estratégias para fornecer o nutriente durante a fase de enchimento de grãos com complemento via foliar ou via sólido – sendo que nesta última há a necessidade de umidade adequada no solo para solubilização do nitrogênio e absorção por fluxo de massa.

Por fim, o terceiro desafio está no residual de herbicidas. A cana por ter um ciclo de 12 a 18 meses e um desenvolvimento inicial mais lento, demanda herbicidas com persistência maior no solo. Nestas áreas de reforma existe sempre a preocupação com o histórico de herbicidas utilizados nos últimos dois anos. O herbicida ideal deveria persistir no solo até passar o período crítico de interferência de plantas daninhas na nova cultura.

A intensificação da rotação nas áreas de cana nos próximos anos é uma realidade. A demanda por etanol derivado de milho tende a crescer, principalmente em São Paulo. Deverá haver uma grande movimentação para adaptar as usinas “flex”, bem como a necessidade de conhecimento e de pesquisa para romper os desafios da produção de milho nestes ambientes que, até então, eram ocupados em sua maioria por leguminosas. A Pioneer®, marca de sementes da Corteva Agriscience, já está olhando para este mercado e se preparando com um pacote de informações de manejo para apoiar as indústrias de etanol, inclusive com análise de grãos de milho para fins de rendimento industrial.

(Ronaldo Gonzaga, Agrônomo de Campo Pioneer®)