RH que não conhece o negócio não é estratégico, diz vice-presidente da Raízen
01-12-2025
No 3º Fórum Agro de RH, Geovane Consul defende parceria radical entre finanças, liderança e gestão de pessoas no agro
Por Andréia Vital
O vice-presidente de etanol, açúcar e bioenergia da Raízen, Geovane Consul, afirmou que o RH do agronegócio só será realmente estratégico se atuar como parceiro de negócios, entender profundamente a cadeia de açúcar e bioenergia e assumir protagonismo na definição de cultura, liderança e incentivos. O executivo participou da palestra “Inovação Humana e Tecnológica para um Futuro Sustentável” no 3º Fórum Agro de RH, realizado nesta sexta-feira (28), no Instituto SEB – A Fábrica, em Ribeirão Preto - SP, promovido pela ABRH-SP.
Consul ressaltou que finanças e recursos humanos precisam atuar “em harmonia”, com pesos equivalentes na tomada de decisão. “Já trabalhei em empresas em que a área comercial era muito destacada e as demais capengas. Isso não é saudável. RH tem de ser business partner de verdade, com conhecimento específico de pessoas, mas também do negócio”, disse, ao lado do moderador César Bresciani, diretor de RH da bp bioenergy e diretor de Conhecimento e Governança da ABRH-SP.
Para o executivo, uma das principais fragilidades do RH no agro é a distância da operação. Ele defendeu que profissionais de gestão de pessoas entendam a cadeia de valor de açúcar e bioenergia: da cana no campo à exportação do produto.
“Quem trabalha em açúcar e bioenergia precisa saber um pouco de cana como planta, modelo de negócio da terra, colheita, transporte, funcionamento de usina e até como o produto sai do interior de São Paulo e chega à China ou à Indonésia. Não é ser especialista, mas ter repertório para dialogar e tomar decisão melhor”, afirmou.
Consul destacou ainda dois gargalos críticos de gente na cadeia: operadores para o novo parque tecnológico – máquinas conectadas, inteligência artificial embarcada, telemetria – e a “primeira liderança” no campo. O modelo clássico, de promover o melhor operador a líder, sem formação adequada, tende a fracassar, avaliou.
“Nós, empresas, vamos ter de formar essas pessoas. Não dá para esperar que tudo venha da escola. RH tem missão chave na qualificação dos operadores e desses líderes de frente”, reforçou.
O vice-presidente da Raízen também apontou cultura e desenho de incentivos como áreas em que o RH tem papel decisivo para garantir perenidade dos negócios. Ele lembrou que boa parte das joint ventures fracassa por choque cultural e relatou ter vivido, na prática, fusões em que o desalinhamento de valores levou ao fechamento de unidades e perda de carreiras.
No tema de incentivos, Consul fez um alerta contra “metas paroquiais” que descolam as equipes dos resultados corporativos. Para ele, quanto mais alta a posição hierárquica, maior deve ser a participação do resultado global da empresa na remuneração variável. “RH é chave dos incentivos. Cuidado com o incentivo da moda, que desvia o foco do que é relevante para a empresa”, afirmou.
O executivo também chamou atenção para o alto turnover no agro, impulsionado pelo próprio sucesso do setor e pela competição por mão de obra qualificada. Segundo ele, apenas remuneração não é suficiente para reter gestores. “Para níveis mais altos, o que segura é perspectiva de carreira, ambiente saudável, cultura compatível e sensação de gerar impacto e legado”, disse.
Para Consul, cabe ao RH apoiar os executivos, conhecer profundamente o negócio, selecionar, desenvolver e reter pessoas e ajudar a consolidar uma cultura sólida. Ao concluir, resumiu: “Equipe certa, liderança presente, objetivos alinhados, o sucesso é praticamente garantido”.


