Safra recorde no Brasil pressiona preços do açúcar e reduz competitividade do etanol, aponta relatório do Itaú BBA
27-10-2025
Produção elevada no Centro-Sul estabiliza o mercado global, enquanto La Niña e recuo da gasolina criam desafios para o biocombustível
Por Andréia Vital
O Relatório Agro Mensal de Outubro do Itaú BBA mostra que o Brasil segue como o principal fator de estabilidade no mercado global de açúcar, com uma safra recorde no Centro-Sul e forte produção que mantém os preços internacionais sob controle. Em setembro, as cotações do açúcar caíram 1,6%, encerrando o mês em US$ 16,10 por libra-peso, permanecendo dentro do intervalo observado desde junho — entre US$ 15 e US$ 17/lb.
Segundo o banco, o nível atual de preços é sustentado pela oferta robusta brasileira, que impede oscilações mais acentuadas. Quando o preço se aproxima da faixa inferior, a produção de etanol passa a ser mais vantajosa para as usinas, criando um efeito de equilíbrio natural entre os dois mercados.
A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) divulgou que, até 15 de setembro, a moagem acumulada de cana na safra 2025/26 chegou a 450 milhões de toneladas, uma queda de 4% em relação ao ciclo anterior. Já a produção de açúcar atingiu 30,4 milhões de toneladas, volume semelhante ao de 2024. O mix açucareiro atingiu o recorde histórico de 52,9%, mas o ATR médio (teor de açúcar na cana) caiu 4%, para 134,1 kg por tonelada.
Na segunda quinzena de agosto, o país registrou recorde de produção quinzenal, com quase 3,9 milhões de toneladas de açúcar, consolidando o protagonismo brasileiro no mercado global.
O relatório também destaca o início positivo da safra no Hemisfério Norte, com boas perspectivas para Índia e Tailândia. Na Rússia, cerca de 45% da área de beterraba já havia sido colhida no início de outubro, com produtividade 3,2% maior que a da safra anterior, embora o teor de sacarose tenha diminuído. A expectativa é de uma produção de 6,6 milhões de toneladas.
Na União Europeia, a colheita começou com projeções otimistas de produtividade, especialmente em França e Alemanha. Apesar do clima seco em maio e junho, as chuvas de julho e agosto garantiram bom desempenho das lavouras e maior concentração de sacarose. Entretanto, a área plantada caiu 10%, o que deve resultar em produção 8,5% menor — cerca de 15,7 milhões de toneladas.
Prêmio do açúcar sobre o etanol deve permanecer positivo
O prêmio do açúcar em relação ao etanol — que chegou a US$ -1,00/lb em setembro — voltou ao terreno positivo nas últimas semanas. A recuperação reflete um balanço global mais equilibrado, no qual o superávit estimado em 1,7 milhão de toneladas mantém o prêmio levemente positivo, mas abaixo dos patamares dos últimos anos.
O Itaú BBA observa que qualquer variação na oferta do Hemisfério Norte pode alterar esse equilíbrio, especialmente se houver ajuste de produção na Ásia ou América Central. Nessas regiões, o clima mais chuvoso tem favorecido a produtividade de cana e beterraba, devendo ajudar a conter oscilações de preço.
No mercado interno, o etanol equivalente ao açúcar registrou preço médio de US$ 16,6/lb em Ribeirão Preto - SP em setembro, com tendência de alta nos próximos meses diante do balanço mais apertado de oferta.
Além disso, compras antecipadas da China e de refinarias do Oriente Médio contribuíram para recuperar os preços após as quedas recentes. O prêmio do açúcar branco sobre o bruto (dez/25), acima de US$ 110/t, permanece atrativo e deve continuar oferecendo suporte ao mercado.
Pressão dos combustíveis fósseis sobre o etanol
O relatório também alerta para o efeito da queda dos preços internacionais da gasolina sobre a competitividade do etanol. Em Paulínia - SP, o biocombustível fechou setembro a R$ 2,82/L (sem impostos), com média mensal de R$ 2,85/L, alta de 3%.
Entretanto, a redução recente dos preços da gasolina no mercado internacional — com o primeiro contrato futuro (CME RBOB) cotado a R$ 2,62/L, abaixo dos R$ 2,85/L praticados pela Petrobras — indica possibilidade de ajustes domésticos para baixo.
Com isso, produtores têm acelerado as vendas de etanol para evitar perdas em caso de queda adicional nos combustíveis fósseis. “Mesmo com fundamentos de oferta apertados, o movimento antecipado de comercialização explica a pressão sobre os preços do etanol nas últimas semanas”, aponta o Itaú BBA.
O banco reforça, contudo, que se não houver redução da gasolina nos próximos meses, o potencial de alta do etanol na entressafra será maior, especialmente com a menor oferta de cana e mix mais açucareiro previsto para 2025/26.
O Itaú BBA conclui que, apesar da queda pontual nos preços internacionais, o mercado global de açúcar segue sustentado por fundamentos sólidos e pelo equilíbrio entre etanol e açúcar no Brasil. No curto prazo, o comportamento da gasolina internacional, o ritmo das exportações asiáticas e o avanço da moagem no Centro-Sul serão os principais fatores a definir o rumo dos preços nos próximos meses.

