São Paulo aposta no biogás e biometano para transformar resíduos agropecuários em energia limpa
09-12-2024

Novas diretrizes prometem dinamizar produção de biocombustíveis e impulsionar descarbonização no estado

O Governo de São Paulo apresentou novos procedimentos para viabilizar e padronizar a geração de biogás e biometano em propriedades rurais, um marco no incentivo à transição energética no estado. As diretrizes, lançadas na última sexta-feira (6), abrangem atividades como suinocultura, avicultura, bovinocultura e operações em frigoríficos e abatedouros, oferecendo maior agilidade no licenciamento ambiental e atraindo investimentos ao setor.

O anúncio foi realizado em Cabreúva - SP, durante o Clube do Leitão, evento tradicional da cadeia suinícola promovido pela Associação Paulista de Criadores de Suínos (APCS), e reuniu lideranças e especialistas do agronegócio. Os procedimentos foram desenvolvidos pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), em parceria com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento e a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística.

Resíduos agropecuários como combustível renovável

A produção de biogás e biometano aproveita gases gerados pela decomposição de resíduos agropecuários, como esterco e palha, para convertê-los em combustíveis renováveis. Essa transformação reduz significativamente a emissão de metano, um dos principais gases do efeito estufa, além de oferecer uma fonte de energia mais limpa para uso industrial e no transporte.

De acordo com a Associação Brasileira de Biogás e Biometano (Abiogás), apenas os resíduos da suinocultura poderiam gerar 2,7 bilhões de metros cúbicos de biometano por ano, substituindo cerca de 2,6 bilhões de litros de diesel. No entanto, o Brasil utiliza atualmente apenas 2% de seu potencial total de produção de biogás, o que ressalta a importância de iniciativas como essa.

“Já aprovamos o licenciamento para o setor sucroenergético e agora avançamos para incluir outros segmentos do agro, permitindo que colaborem na descarbonização e aumentem a rentabilidade de suas propriedades”, destacou Guilherme Piai, secretário de Agricultura e Abastecimento.

Potencial energético do agronegócio paulista

Com um rebanho bovino de mais de 10 milhões de cabeças, 1,25 milhão de suínos e quase 126 milhões de aves, São Paulo desponta como um dos maiores produtores agropecuários do país. Segundo o Centro de Pesquisa para Inovação em Gás (RCGI), o estado tem capacidade para gerar anualmente cerca de 36.197 gigawatt-hora (GWh) de energia elétrica a partir de biogás, suficiente para abastecer 93% do consumo residencial paulista.

Além disso, o potencial de produção de biometano poderia ultrapassar 3,87 bilhões de metros cúbicos por ano, o equivalente a substituir 72% do diesel comercializado no estado. A maior parte desse gás renovável pode ser originada no setor sucroenergético, com aproveitamento dos resíduos da cana-de-açúcar.

Expansão da matriz energética limpa

Atualmente, São Paulo já lidera em fontes renováveis no Brasil. Sua matriz elétrica alcança 96% de fontes limpas, principalmente provenientes de hidrelétricas e biomassa, enquanto a matriz energética geral do estado atinge 57% de fontes renováveis, bem acima da média global de 15%.

Com a implementação dos novos procedimentos, a capacidade instalada de biometano pode saltar de 0,4 milhão de metros cúbicos por dia para 6,4 milhões de metros cúbicos por dia, um aumento de 16 vezes. Esse volume poderia atender 40% do consumo de gás natural do estado e 25% da demanda de diesel no transporte pesado.

“Com os novos procedimentos, empreendedores terão mais facilidade para obter licenças, enquanto a CETESB poderá atuar de forma mais ágil e eficiente, sem comprometer a qualidade do serviço”, afirmou Thomaz Toledo, diretor-presidente da CETESB.