Seminário na CNA debate papel estratégico do biogás e do biometano na transição energética e na sustentabilidade
30-10-2025
Confederação sediou evento na terça (26)
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) realizou, na terça (26), um seminário para debater temas como o papel estratégico do biogás e do biometano na transição energética, na sustentabilidade do agro brasileiro, os desafios, as oportunidades e as tendências dessas fontes renováveis de energia.
Promovido pela CNA, Embrapa Agroenergia e FGV Bioeconomia, o “Seminário Agroenergia - Transição Energética Sustentável” reuniu, na sede da entidade, produtores rurais, lideranças do agro, especialistas e representantes das iniciativas pública e privada.
O presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Marcelo Bertoni, representou o presidente da CNA, João Martins, no evento. Ele afirmou que o Brasil já se destaca por ter uma das matrizes energéticas mais limpas e diversificadas, com aproximadamente 50% de sua energia provenientes de fontes renováveis.
“Esse avanço aumenta nossa responsabilidade, mas também amplia nossas oportunidades de nos consolidarmos como referência global em transição energética e eficiência", afirmou ao discursar na abertura do evento.
Entre as alternativas, o biogás e o biometano ganham relevância pelo potencial de expansão aliado à vocação agrícola do país. “Transformar resíduos orgânicos em energia representa um ganho duplo: reduz impactos ambientais e amplia o acesso a uma fonte renovável e descentralizada de energia”, afirmou.
Bertoni disse que a combinação entre avanço tecnológico e vocação agrícola tem permitido ao país desenvolver fontes alternativas de energia, sem comprometer a produção de alimentos.
“Transformar resíduos orgânicos em energia representa um ganho duplo: reduz impactos ambientais e amplia o acesso a uma fonte renovável e descentralizada de energia”, afirmou.
Marcelo Bertoni ainda falou sobre a produção nacional de biogás e de biometano e o potencial dessas fontes de energia.
"Pensando nisso, a CNA realiza mais uma edição do Seminário Agroenergia. Somente com ambiente favorável e estímulos adequados será possível ampliar a escala de produção, melhorar a infraestrutura e viabilizar economicamente as cadeias produtivas baseadas no uso eficiente de matérias-primas agropecuárias."
Os debates e encaminhamentos do evento servirão de subsídio para a participação da Confederação na COP 30, que será realizada em novembro, em Belém (PA).
“Este seminário reafirma o papel da CNA no debate sobre sustentabilidade e transição energética. As propostas aqui construídas comporão a contribuição brasileira na COP 30”, concluiu.
Embrapa – O chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Alexandre Alonso, destacou na abertura a iniciativa da CNA em organizar o seminário. “Isso mostra a credibilidade e importância da agricultura na transição energética. A gente não consegue falar hoje de sustentabilidade de energia sem trazer a agricultura para o centro desse debate.”
Alonso afirmou que a pauta de biocombustíveis é uma agenda "do dia", com interesse crescente não somente no Brasil, mas também no exterior. “Está associada à pauta da transição energética para substituir as fontes fósseis por fontes de origem não somente renováveis, mas principalmente biorrenováveis."
Alexandre Alonso lembrou ainda que a pauta dos biocombustíveis também ganhou visibilidade por estar “colada” à pauta climática.
“É uma alternativa muito importante para podermos promover uma ampla descarbonização de uma série de setores, sem falar que esse debate contribui para derrubar o discurso de que existe competição entre produção de alimentos e de energia. Com as tecnologias adequadas, produzimos múltiplos bioprodutos. Então, a tecnologia é um fator chave para que a gente possa expandir a produção de biocombustíveis de maneira sustentável."
Documento - O chefe da Embrapa Agroenergia falou também da publicação elaborada pelas instituições, que traz dados atualizados do setor de agroenergia com foco nos principais biocombustíveis: etanol, biodiesel, biogás e biometano.
O documento foi entregue aos participantes do seminário e irá compor o posicionamento do setor durante a conferência do clima (COP30).
Palestra magna - Após a abertura, os participantes acompanharam a palestra magna “Biogás e Biometano: oportunidades para a agroenergia e descarbonização do Brasil”, com Tiago Santovito, diretor-executivo da ABiogás.
Ele falou sobre o crescimento populacional que necessitará de mais recursos energéticos, assim como de água e de alimentos, onde se destaca o papel do agro.
Santovito explicou que o biometano tem grande potencial para crescer no Brasil, que atualmente tem apenas 15 plantas autorizadas funcionando, com produção de 1 milhão de metros cúbicos/dia.
E, segundo ele, o país tem potencial de produzir 120 milhões de metros cúbicos/dia e setores do agro como sucroenergético, proteína animal e produção agrícola podem contribuir para a expansão dos biocombustíveis.
Na avaliação do diretor-executivo, existem diversos desafios para esse crescimento, como demanda de infraestrutura, precificação, aprimoramento regulatório e de políticas públicas, mas também inúmeras vantagens como independência energética, descarbonização de setores chaves e aproveitamento de passivo ambiental.
"O Brasil tem oportunidade para todos os biocombustíveis e o biometano tem alto potencial de descarbonização, além de muita biomassa para sua produção."
Painel 1 - Em seguida, o painel “Biogás e Biometano: inovação e integração com o agro”, discutiu soluções e tendências do setor apresentadas por Airton Kunz, da Embrapa Suínos e Aves; Alessandro Gardemann, da Geo biogas&cCarbon; e Felipe Marques, do CIBiogás.
Os especialistas falaram sobre as experiências no setor e destacaram que o Brasil não pode perder a oportunidade atual para se destacar na produção de biocombustíveis.
Para Felipe Marques, é uma agenda positiva, tanto pelo viés econômico quanto ambiental. Com a regulamentação da lei do Combustível do Futuro (14.993/2024), que deve acontecer em breve, o especialista acredita que o setor terá um grande impulsionamento.
Para Airton Kunz, é importante que o país aprenda com as experiências passadas. "Precisamos trazer estabilidade para as plantas de biogás e o Brasil tem muito potencial, porque tem muito solo e precisamos aproveitar isso."
Já Alessandro Gardemann falou dos processos a partir das matérias-primas e ressaltou, assim como Kunz, que o país "não pode errar" nessa próxima onda de produção de biocombustíveis. “O mercado quer e temos tudo para atender."
Soluções - Os painelistas também apontaram que as soluções europeias ou norte-americanas não vão atender o Brasil, que tem suas particularidades.
E, apesar de estar preparado com matéria-prima e tecnologia disponíveis, o país ainda precisa vencer alguns gargalos para ganhar escala, como, por exemplo, ter informações de qualidade para as tomadas de decisão, infraestrutura e logística adequadas para o escoamento da produção.
Painel 2 - O seminário também destacou cases de sucesso de cooperativas, no painel “Transformando energia”, com experiências da Cocal e da Primato Cooperativa Agroindustrial.
Anderson Sabadin, presidente da Primato Agroindustrial, localizada em Toledo (PR), falou sobre a produção dos biocombustíveis na empresa, que trabalha com a integração de suínos, tilápia, frango, grãos, bovinos de corte e de leite.
Ele explicou que a cooperativa iniciou um case de biogás e biometano em uma granja de genética onde instalaram uma indústria para que a granja passasse a receber os substratos para produção de organomineral (fertilizante).
"Nós coletamos os substratos com os produtores e levamos para a granja em caminhões movidos a biometano. Coletamos o substrato com produtores localizados em torno de 30 km da indústria e esse produtor paga um terço e a cooperativa dois terços do frete que vai buscar. Instalamos hidrômetros em todas as granjas para controlar o uso de água e deixamos de usar sanitizantes químicos passando a usar biológicos”, contou.
Segundo ele, a cooperativa também coleta outros materiais com caminhões movidos a biometano feito nessa planta e ressalta que o produtor que disponibiliza o substrato não é obrigado a comprar o organomineral.
“Tudo que produzimos do fertilizante, em torno de 40 toneladas/dia, vendemos imediatamente. Falamos com os produtores e explicamos que o organomineral, a longo prazo, é melhor para a sua terra e para o solo.”
O case da Cocal, de Paraguaçu Paulista (SP), é na cadeia da cana-de-açúcar. O diretor comercial da empresa, André Gustavo, explicou que começaram a pensar em projetos voltados à produção de biogás em 2017.
“Quando percebemos que a cana-de-açúcar poderia produzir muito mais do que açúcar e álcool, entendemos que o potencial energético dessa matéria-prima é muito maior e, por isso, buscamos dentro das nossas operações oportunidades de maximizar o potencial da geração de bioenergia a partir dessa matéria-prima.”
Gustavo acrescentou que iniciaram projetos acoplados à produção de açúcar e álcool, onde o primeiro foi na produção de levedura, a partir da fermentação da cana, mas os projetos principais foram as plantas de biogás e biometano, produzidos a partir de dois substratos, um sólido, a 'torta de filtro', e um líquido, a 'vinhaça'.
“Moemos 150 toneladas de torta de filtro que pode ser armazenado e produzir biogás durante 12 meses. Do outro lado, temos a vinhaça, que com um litro de etanol produzimos 12 litros de vinhaça, ou seja, produzimos muito mais vinhaça do que propriamente etanol. Nesse primeiro projeto produzimos próximo de 100 metros cúbicos/dia de biogás, sendo 50% para produção de energia e os outros 50% para produção de biometano.”
O executivo ressaltou que a planta da Cocal é a primeira do setor sucroenergético a produzir biometano em grande escala. “Hoje a Cocal está iniciando a segunda planta para produção 100% de biometano, que já virá com diversas melhorias em relação à primeira, usando tecnologias a partir de outros coprodutos.”
Encerramento - Após os painéis, o seminário foi encerrado com a palestra “Perspectiva global sobre biogás e biometano: Caminhos para a COP 30”, ministrada pela chefe de Assuntos Externos da World Biogas Association (WBA), Guilia Ceccareli, que abordou as perspectivas internacionais para o setor e a posição estratégica do Brasil na agenda global de energia sustentável.

