Setor insiste em variedades de cana antigas e índice de atualização varietal segue em nível não recomendado
27-11-2020

Dos 10 estados recenseados pelo Centro de Cana do IAC, apenas em São Paulo a RB867515 não é a principal variedade cultivada

Texto: Leonardo Ruiz

Na última terça-feira (24), o Centro de Cana do Instituto Agronômico (IAC) divulgou o Censo Varietal Safra 2020/21. O projeto é considerado o maior censo de variedades do Brasil e tem como objetivo levantar informações sobre as áreas de variedades no maior número possível de unidades produtoras, englobando usinas, destilarias, associações e grandes fornecedores. Este ano, foram levantados dados de 214 empresas, detentoras de uma área de 5,9 milhões de hectares.

O censo deste ano revelou que a RB867515 continua sendo a principal variedade cultivada no Brasil. Dos 10 estados produtores recenseados, apenas em São Paulo o material da RIDESA não ocupa a primeira posição em área de cultivo. Bahia, Tocantins, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Paraná seguem cultivando largamente a 7515, muitas vezes com níveis considerados perigosos, como no caso do Espírito Santo (73%), Paraná (38%) e Mato Grosso (37%).

Índice de atualização varietal do Centro de Cana do IAC revela que o setor se encontra, desde 2012, no nível não recomendado

Gráfico: Centro de Cana do IAC

Baseado nos dados do Censo, o Centro de Cana do IAC também disponibiliza um índice de atualização varietal, que indica o quão moderno é o plantel das unidades produtoras brasileiras. O Instituto classifica os índices em satisfatórios, intermediários e não recomendados. Aqueles enquadrados no quesito satisfatório possuem um bom nível de atualização varietal, ou seja, estão optando cada vez mais por variedades modernas. Já aqueles inclusos no nível não recomendado estariam plantando e cultivando variedades antigas, como a RB867515.

Segundo o consultor e coordenador do censo varietal do Centro de Cana do IAC, Rubens Braga Júnior, a última vez que o setor alcançou o índice considerado satisfatório foi em 2007. Desde então, a situação tem “piorado” a cada ano. De 2008 a 2011, o segmento permaneceu no nível intermediário. A partir de 2012, entrou de vez no nível não recomendado, onde permanece até hoje.

“A grande responsável por essa posição é a 7515. Apenas em São Paulo ela não é a variedade mais cultivada. Porém, em 2020 já observamos uma leve melhora nos indicadores, uma vez que as unidades produtoras de outros estados estão começando a diminuir suas áreas plantadas com a variedade da RIDESA. Com isso, esperamos voltar ao nível intermediário nos próximos anos.”

Durante a reunião, também foram disponibilizados dados de concentração varietal nas unidades produtoras brasileiras. Segundo o Censo, nenhum dos estados recenseados alcançou índices considerados satisfatórios nesse quesito, que avalia a alta concentração de um mesmo material dentro de uma companhia. Para Braga Júnior, 15% deve ser o valor máximo de concentração de uma mesma variedade no plantel de cada empresa. Pois, caso haja algum problema, será possível eliminar 100% desse material em apenas uma safra.

Atualmente, o melhor índice é o de São Paulo, que se encontra na faixa considerada intermediária, porém, bem próximo do nível satisfatório. Goiás e Minas Gerais são os outros dois estados também enquadrados no nível intermediário. Já o Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná e Espírito Santo estão localizados no nível insatisfatório, ou seja, são os estados que possuem altas concentrações de uma mesma variedade.

Fonte: CanaOnline