Setores veem abertura da China para DDG e carnes de aves do Brasil como marco estratégico
14-05-2025

O Brasil produziu 4,11 milhões de toneladas de DDG/DDGS na safra 2024/25 — Foto: FS/Divulgação
O Brasil produziu 4,11 milhões de toneladas de DDG/DDGS na safra 2024/25 — Foto: FS/Divulgação

Vendas para o mercado chinês também devem ampliar pauta exportadora de proteína animal

Por Rafael Walendorff — Brasília

A União Nacional do Etanol de Milho (Unem) avaliou que a abertura do mercado chinês para o DDG do Brasil, oficializada nesta terça-feira (13/5), representa um “marco estratégico para o setor de bioenergia e para a internacionalização da cadeia produtiva” do biocombustível brasileiro.

Guilherme Nolasco, presidente da entidade, ressaltou que a China tem demonstrado interesse crescente em soluções sustentáveis para atender à demanda por energia e por insumos para nutrição animal no país. Segundo ele, os coprodutos do etanol de milho brasileiro atendem a esse novo perfil de consumo.

“É um fato histórico para o setor de etanol de milho em uma ação colaborativa entre o setor produtivo, o Ministério da Agricultura e a Embaixada brasileira na China. Conseguimos em tempo recorde finalizar o protocolo sanitário e concluir o acordo de comércio paro os DDGs”, disse ao Valor. “Podemos vivenciar que o governo brasileiro e chinês estão muito alinhados, buscando o fortalecimento das relações comerciais e laços de amizade”, completou.

O Brasil produziu 4,11 milhões de toneladas de DDG/DDGS na safra 2024/25, de abril do ano passado até março deste ano, e deve ampliar a produção para quase 5 milhões de toneladas nesta temporada 2025/26. A previsão é dobrar esse volume até 2035 e chegar próximo das 10,4 milhões de toneladas.

A demanda da China é enorme, indicou Nolasco, perto de 7 milhões de toneladas para nutrição animal. Os grandes números são um indicativo do potencial dessa abertura de mercado para o Brasil, pontuou.

Nos últimos dois anos, o Brasil exportou mais de US$ 370 milhões de DDG e DDGS. Os principais mercados foram Vietnã, Nova Zelândia, Turquia, Espanha, Egito e Tailândia. Em 2024, foram quase 800 mil toneladas vendidas ao exterior.

“Colaboramos com o governo brasileiro no diálogo com os chineses e identificamos um grande interesse no produto brasileiro”, afirmou. As negociações para exportação do produto começaram em 2022. Ao todo, o Brasil possui atualmente 25 biorrefinarias em operação. Outros dez projetos possuem autorização de construção e mais 20 unidades estão programadas para construção.

Aves

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) afirmou que as três aberturas de mercado da China, para miúdos de frangos (como coração, fígado e moela), carne de peru e carne de patos do Brasil, vão possibilitar a ampliação da pauta exportadora do setor nacional. O presidente da ABPA, Ricardo Santin, disse que as aberturas fortalecem o setor, ajudam a gerar mais receita cambial e ampliam os destinos disponíveis aos exportadores brasileiros.

“Você pode variar na hora da decisão para quem vai vender e, inclusive, na obtenção de preços melhores. Mas também, muito mais do que isso, tem a confiança no mercado chinês, que é o maior importador de proteínas animais do Brasil”, afirmou ao Valor. A China deu aval para as exportações de miúdos de aves, carne de pato e carne de peru do Brasil.

A agroindústria brasileira produziu cerca de 5 mil toneladas de carne de pato em 2024. O mercado estrangeiro é o principal destino dessa produção. No ano passado, foram exportadas 3,5 mil toneladas, mais de 70% do volume total, com negócios que renderam US$ 11,5 milhões. Os principais destinos foram os Emirados Árabes Unidos, que compraram 1,5 mil toneladas do produto.

Já a produção de carne de peru alcançou 127,3 mil toneladas em 2024, com exportações de 64 mil toneladas que totalizaram US$ 153,7 milhões em negócios. México, África do Sul, Países Baixos e Chile foram os principais destinos.

O Brasil também exportou 178,1 mil toneladas de miudezas de frango. As exportações chegaram a US$ 290 milhões.

No caso dos miúdos de aves, que incluem coração, fígado e moela, a abertura chinesa reforça o padrão sanitário brasileiro, disse o executivo. “Quando amplia o escopo das vendas de frango, podendo vender os miúdos que são, sanitariamente falando, sempre um tema sensível nas negociações dos países, comprovamos que o Brasil tem qualidade e essa aceitação pela China reforça essa situação”, completou Santin.

Agenda na China

Guilherme Nolasco está em Pequim e acompanhou, nesta terça-feira (13/5), a assinatura do protocolo entre Brasil e China que viabiliza o início das exportações de DDG (Grãos Secos de Destilaria, na sigla em inglês) e DDGS (Grãos Secos de Destilaria com Solúveis). A China também autorizou as exportações de farelo de amendoim, miúdos de aves, carne de pato e carne de peru do Brasil.

Ainda na China, a Unem vai realizar um seminário técnico exclusivo na próxima quinta-feira (15/5) para promoção do DDG. O evento vai reunir representantes do governo, empresas associadas, entidades do setor de alimentação animal e importadores chineses.

Ricardo Santin também está na China e acompanha a missão empresarial, que tem agendas paralelas aos compromissos governamentais. Nesta quarta-feira (14/5), a ABPA e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carnes (Abiec) vão inaugurar um escritório conjunto em Pequim.

A comitiva brasileira também vai realizar visitas técnicas a empresas interessadas nos produtos nacionais, como a estatal chinesa Cofco (China Oil anda Foddstuffs Corporation ), maior processadora e comerciante de alimentos no país asiático. No fim da semana, os empresários vão conhecer a fábrica da Wilmar Tianjin e o Porto de Tianjin.

Fonte: Globo Rural