Sindaçúcar-AL: futuro limpo começa na cana
05-09-2025
Setor sucroalcooleiro investe em etanol, bioeletricidade e biogás como vetores da economia verde. Alagoas é um dos estados onde essa realidade emerge em constante evolução
Por Maysa Sena
Com raízes profundas na cultura agrícola e um setor industrial em constante modernização, Alagoas emerge como um dos estados brasileiros mais promissores na transição energética a partir da agroindústria da cana-de-açúcar. Com um sistema produtivo historicamente consolidado e em constante evolução tecnológica, o estado já colhe os frutos da substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis com baixa pegada de carbono.
“A transição energética do combustível fóssil para o combustível renovável com baixa pegada de carbono já é uma realidade operacional na agroindústria da cana-de-açúcar em seu desenvolvimento alagoano”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Alagoas (Sindaçúcar-AL), Pedro Robério de Melo Nogueira.
Segundo ele, essa transformação ocorre em diversos segmentos, tendo como destaque a produção de etanol hidratado, que substitui diretamente a gasolina nos postos de combustíveis, além da adição de 30% de etanol anidro à gasolina A, gerando a gasolina C, mais limpa e sustentável.
Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Alagoas (Sindaçúcar-AL), Pedro Robério de Melo Nogueira
Foto: Divulgação
Além do etanol, outro destaque é a geração de energia elétrica a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar. “Também já é um processo tecnicamente consolidado que torna as unidades industriais autossuficientes no consumo próprio dessa energia, além de disponibilizar um excedente que é injetado nas redes de transmissão elétrica para uso geral”, explica Pedro Robério.
Mas os avanços não param por aí. O setor alagoano também tem investido na transformação de resíduos sólidos, como a vinhaça e a torta de filtro - subprodutos do processo de fabricação de açúcar e etanol - em biogás e biometano. “A contribuição do sistema de produção agrícola da cana-de-açúcar alagoana na transição energética com autossustentabilidade e baixa pegada de carbono está integrada nos processos produtivos atuais”, enfatiza.
Expansão
A presença da cana-de-açúcar na matriz energética alagoana é concreta. De acordo com o presidente do Sindaçúcar-AL, o etanol anidro já está presente em 100% da gasolina vendida no estado, enquanto o etanol hidratado representa cerca de 25% do consumo de combustíveis.
Esse número, ressalta, tende a crescer. “Esse percentual está em crescimento como consequência da melhor competitividade no preço do etanol como resultado das novas regras tributárias em favor do combustível renovável”, explica.
Entre os principais produtos energéticos gerados a partir da cana-de-açúcar em Alagoas estão o etanol hidratado e anidro, a bioeletricidade e os gases limpos como o biogás e o biometano. “São a presença efetiva da cana-de-açúcar e seu processamento na transição energética para produtos com baixa emissão de CO2”, resume Pedro.
A busca por sustentabilidade e produtividade caminha lado a lado com os avanços tecnológicos nas lavouras alagoanas. Pedro Robério destaca o uso crescente da irrigação plena como resposta à irregularidade climática, além da introdução de novas variedades de cana com maior concentração de açúcares, fibras e resistência ao déficit hídrico.
“A produção de cana-de-açúcar vem sofrendo um processo permanente no Estado de Alagoas no que diz respeito ao uso de novas tecnologias”, diz. O investimento em mecanização agrícola também é apontado como fator relevante para o aumento da eficiência e redução de custos.
Inclusão
Sobre os incentivos estatais e federais para fomentar a transição energética, o presidente do Sindaçúcar-AL reconhece limitações. “Não existe um sistema permanente de incentivos para esses novos processos. Os Estados, dentro da sua limitada possibilidade, têm contribuído de forma eficaz nesse processo”, afirma. No entanto, ele ressalta que a falta de acessibilidade a recursos compromete a expansão dessas tecnologias em larga escala.
Sobre a inclusão de pequenos produtores no processo de transição energética, Pedro Robério destaca que muitos deles já desempenham papel relevante. “Existe uma consciência entre as empresas industriais de que os pequenos produtores são parte importante nesse processo de evolução para transição energética.”
Com a maior produção de canade-açúcar do Nordeste, Alagoas tem potencial para se consolidar como referência nacional em energia renovável. “Os empresários de Alagoas no setor sucroenergético estão atentos, disponíveis, preparados, acessíveis e conscientes da necessidade de desenvolver em Alagoas um grande polo de oferta de energia limpa”, afirma o dirigente.
Quando comparado a outras regiões produtoras, o estado não fica para trás em termos de tecnologia, mas enfrenta desafios econômicos. “O que difere em uma e outra região é a disponibilidade de poupança doméstica para implementar. Contudo, a expertise é comum a todas as regiões. Há que haver uma alavancagem de políticas públicas na oferta de recursos compatíveis para esses investimentos”, defende.
O maior obstáculo, segundo Pedro Robério, continua sendo o clima. “O nosso mais importante gargalo é a superação ou o enfrentamento da adversidade climática no desenvolvimento agrícola da cana-de-açúcar e que só pode ser superado com um vigoroso programa de irrigação plena para otimizar a disponibilidade abundante de água e luminosidade na região.”
Atuação
O presidente ainda destaca o papel do sindicato na construção dessa nova matriz energética.
“O Sindaçúcar-AL tem atuado em todas as esferas do Poder Público e na transversalidade com outros segmentos empresariais afins no sentido de sugerir, acompanhar a formulação de políticas públicas e parcerias empresariais que otimizem a expertise dos empresários alagoanos, suas particularidades produtivas e o seu potencial de engajamento nesse futuro energético que estamos construindo.”
Com base na tradição da canade-açúcar e com os olhos voltados para o futuro, Alagoas avança na direção de se tornar um exemplo de transição energética no Brasil, unindo tecnologia, sustentabilidade e inclusão produtiva como pilares de uma nova economia verde.

Fonte: Folha de Pernambuco

