Tensões entre Irã e Israel elevam preço da ureia e acendem alerta no mercado de fertilizantes
17-06-2025
Conflito no Oriente Médio afeta oferta global e provoca retração de compradores no mercado físico; Brasil importa 19% de sua ureia do Irã
As recentes tensões geopolíticas entre Irã e Israel já refletem fortemente sobre o mercado global de fertilizantes, especialmente no segmento de nitrogenados como a ureia. Segundo Renata Cardarelli, especialista em agricultura e fertilizantes da consultoria Argus, o cenário de incertezas tem provocado alta nos preços e afastado compradores do mercado físico.
“No mercado de papel, os preços da ureia subiram impulsionados pelo clima de instabilidade no Oriente Médio. A preocupação com uma possível restrição de oferta levou muitos participantes a recuarem do mercado físico, à espera de definições mais claras”, afirmou Cardarelli.
Em 12 de junho, o preço médio da ureia granulada no Brasil era de US$ 398 por tonelada (cfr), com baixa liquidez à espera dos resultados do leilão indiano de compra de ureia. No dia seguinte, em meio à escalada das tensões, o valor subiu para US$ 430/t, colocando o leilão em segundo plano. Já em 16 de junho, o ponto médio da faixa diária da Argus foi de US$ 435/t, refletindo a movimentação no mercado de papel e a ausência de compradores no mercado físico.
O Brasil é diretamente impactado por esse cenário: em 2024, cerca de 19% da ureia importada pelo país — o equivalente a 1,6 milhão de toneladas — vieram do Irã, que forneceu parte das 8,3 milhões de toneladas adquiridas até o momento. O Oriente Médio, por sua vez, é o maior exportador global do insumo, com cerca de 20 milhões de toneladas embarcadas por ano, sendo o Irã responsável por 25% desse volume.
Apesar do risco geopolítico, fontes locais indicam que a infraestrutura de produção iraniana de ureia ainda não foi atingida diretamente. Segundo apuração da Argus, algumas unidades estariam sendo paralisadas de forma preventiva. A produtora Lordegan continua operando sua planta de 1,2 milhão de toneladas/ano, enquanto a MIS mantém sua unidade de 1,07 milhão t/ano ativa, mas planeja interrupção nos próximos dias. A produção de amônia da mesma empresa já foi suspensa.
Além da ureia, os produtores chineses de sulfato de amônio também relatam aumento nas consultas, embora muitos tenham se retirado temporariamente do mercado, sinalizando uma possível movimentação de substituição por parte dos compradores diante do cenário incerto.
O conflito, ainda sem desdobramentos previsíveis, segue como um fator de risco para o abastecimento global e pode impactar não só os preços dos fertilizantes, mas também o planejamento agrícola em diversos países dependentes da importação do insumo.

