Trator que fala: a nova interação entre humanos e máquinas
11-11-2025

Conceito de “trator falante”, que usa Inteligência Artificial para se comunicar, foi apresentado na Agritechnica — Foto: Daniel Azevedo Duarte
Conceito de “trator falante”, que usa Inteligência Artificial para se comunicar, foi apresentado na Agritechnica — Foto: Daniel Azevedo Duarte

Máquina desenvolvida pela Valtra em parceria com a startup Spogen começará a ser testada por agricultores europeus em 2026

Por Daniel Azevedo Duarte — Hannover (Alemanha)

Na disputa das empresas de tecnologia para se aproximar do produtor rural — seja com assistentes virtuais personalizados ou com chatbots capazes de fazer recomendações sobre a atividade — um trator em específico ganha destaque ao tentar cumprir esse papel de maneira literal.

A Valtra, controlada pela AGCO, acaba de lançar o Q Series Talking Tractor, primeiro trator do mundo capaz de conversar com o operador, segundo a empresa. A apresentação foi feita durante a Agritechnica 2025, maior feira de máquinas agrícolas do mundo, em Hannover, na Alemanha.

A inovação, baseada em inteligência artificial e desenvolvida em parceria com a startup finlandesa Spogen, propõe uma nova forma de interação homem-máquina no campo.

O sistema permite que o produtor faça perguntas sobre a operação, desempenho ou manutenção e receba respostas imediatas, em linguagem natural.

O sistema faz parte do aplicativo Valtra Coach e foi desenhado para funcionar em qualquer dispositivo móvel.

Se o futuro da produção rural no campo depende da conexão entre o homem e a tecnologia, a montadora quer que o idioma não seja um problema para a geração atual de produtores. Por enquanto, o Q Series entende e responde a comandos de voz ou texto em inglês, alemão, francês e finlandês, e está integrado ao Valtra Connect, um sistema de telemetria da marca.

De acordo com Mika Sormunen, gerente de Dados e Análises da Valtra EME, o objetivo vai além da curiosidade tecnológica. “Não se trata apenas de falar, é sobre entender o agricultor e ajudá-lo a usar todo o potencial da máquina com eficiência e produtividade”, afirmou a jornalistas durante a Agritechnica.

O sistema combina informações de manuais operacionais, registros de telemetria e histórico de uso para gerar recomendações automáticas e facilitar a tomada de decisão no campo.

Durante as demonstrações na feira, o trator da Valtra respondeu a perguntas sobre consumo de combustível, velocidade média e operação de luzes de trabalho, oferecendo explicações detalhadas na tela e por áudio.

A executiva Natalia Leinonen, diretora de tecnologia e cofundadora da Spogen, afirmou que o Talking Tractor ainda é um conceito em desenvolvimento, mas já oferece benefícios práticos.

“O operador pode perguntar muitas coisas ao trator, desde ‘qual foi minha velocidade média no último trabalho’ até ‘como troco o óleo’, ou ‘onde está o posto de combustível mais próximo’. É uma ferramenta de suporte em tempo real, feita para reduzir dúvidas e erros”, disse.

Por enquanto, o sistema não executa comandos de controle, como ajustes de velocidade, tração ou consumo, mas esse é o runo que o projeto pretende tomar.

“Hoje, ele responde e orienta. O próximo passo é fazer com que também aja sobre as configurações da máquina, sempre com supervisão do operador”, disse a cofundadora da Spogen. A tecnologia está sendo aprimorada para que, em futuras versões, a voz do agricultor possa controlar funções de campo e parâmetros de operação, com segurança.

O Talking Tractor é apresentado como prova de conceito e ainda não tem preço nem data de lançamento definidos.

A previsão é que os primeiros testes em fazendas europeias ocorram em 2026, com expansão gradual conforme o sistema de aprendizado da máquina evolua. Segundo a Valtra, a avaliação dos agricultores que testarem o trator será essencial para ajustar as próximas etapas de desenvolvimento.

O aplicativo da marca exibe checklists de tarefas, emissões de CO2 e outros indicadores em tempo real, traduzindo dados em recomendações. “Queremos tornar a tecnologia acessível, não intimidante. Nosso papel é simplificar as complexidades e entregar informações úteis na hora certa”, disse Sormunen.

O jornalista viajou a convite da DLG, organizadora da Agritechnica

Fonte: Globo Rural