Trump retalia China e põe o mercado global em alerta
13-10-2025

Presidente americano divulgou a imposição de tarifas de 100% ao país, além da atual sobretaxa
O mercado futuro de açúcar em Nova York encerrou a semana em queda. O contrato com vencimento em março de 2026 fechou cotado a 16.10 centavos de dólar por libra-peso, uma baixa de 40 pontos, o equivalente a cerca de 8.90 dólares por tonelada. Os demais vencimentos — especialmente aqueles que refletem a safra 2026/27 do Centro-Sul — acompanharam o movimento, registrando perdas entre 38 e 41 pontos, ou aproximadamente 8 a 9 dólares por tonelada.
Parte dessa retração tem nome e sobrenome: Donald Trump. O presidente americano divulgou no final da tarde de sexta-feira a imposição de tarifas de 100% à China, além da atual sobretaxa. Essa é uma retaliação após o governo chinês divulgar o bloqueio das exportações de diversos produtos, entre eles, terras raras e outras medidas restritivas de Pequim. Esse anúncio, depois que o mercado fechou, embora já houvesse reagido pela ameaça (agora concretizada) vai acionar um efeito dominó sobre praticamente todas as commodities.
A soja liderou as perdas nos grãos, caindo quase 2%, refletindo o pessimismo dos produtores americanos, que já não veem horizonte claro para as exportações ao principal destino global. O petróleo, por sua vez, também perdeu força com queda de 5% — não por razões ligadas diretamente ao comércio entre China e EUA, mas porque os investidores começaram a precificar a possibilidade de uma desaceleração econômica global. Quando o mercado de energia sinaliza cautela, é sempre um termômetro de que algo maior preocupa: o medo de uma recessão adiante.
Aliás, eu costumo dizer que Trump é, por natureza, um fator baixista para as commodities. Suas declarações e decisões, muitas vezes impulsivas e imprevisíveis, têm o poder de desorganizar fluxos comerciais, provocar reações imediatas e gerar instabilidade em praticamente todos os mercados. O problema é que nunca se sabe quando virá a próxima surpresa — e o mercado detesta surpresas.
O cenário, portanto, é de maior incerteza macroeconômica. As bolsas globais recuaram, o dólar se fortaleceu e as moedas emergentes sofreram forte desvalorização. O real não escapou: atingiu a máxima de R$ 5.5235, acumulando uma queda de quase 3.5% na semana.
Paradoxalmente, essa alta do dólar acabou funcionando como um amortecedor para o mercado doméstico. Mesmo com a queda em Nova York, os preços médios em reais por tonelada dos contratos futuros das safras 26/27, 27/28 e 28/29 apresentaram leve valorização, sustentados pela depreciação cambial. É uma daquelas ironias típicas do mercado: lá fora o açúcar cai, mas aqui dentro ele sobe, provando mais uma vez que o câmbio pode ser tanto vilão quanto herói — depende apenas de que lado da mesa se está.
Enquanto isso, o ambiente segue tenso. O governo dos Estados Unidos ainda enfrenta o shutdown dos serviços públicos federais, o que significa que ficaremos mais uma semana sem os dados do CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência americana reguladora do mercado de commodities, que mostram as posições dos fundos. É razoável supor que, diante da queda generalizada, os fundos ampliaram suas posições vendidas, apostando mais agressivamente na continuidade da tendência de baixa. As usinas ainda vão sofrer um pouco, mas fiquem de olho no dólar e NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) porque tudo isso vai passar, como sempre ocorre com as traquinices de Trump.
No Brasil, a chamada “morte súbita” da safra já começa a ganhar corpo: diversas usinas devem encerrar a moagem até o final de outubro, o que tende a reduzir o fluxo de oferta física e criar uma janela de sustentação momentânea para os preços. Ainda assim, o humor geral segue pesado, contaminado pelo ambiente externo e pelo sentimento de que o mundo entrou numa fase mais complicada, em que política, economia e emoção se misturam perigosamente.
No fim das contas, o açúcar está sofrendo como todas as demais commodities, mas com um agravante: a divergência entre o que mostram os fundamentos e o que fazem os fundos. O mercado físico fala em aperto, o técnico em excesso. E entre os dois, o operador que entende de hedge respira fundo, ajusta a planilha e lembra que — em tempos como este — o melhor ativo continua sendo a prudência.
Marcelo Moreira, nosso colaborador, escreve: O março-26 encerrou a semana a 16.10 centavos de dólar por libra-peso. Durante o período, entre a máxima e a mínima, o março-26 chegou a cair -5.11% (fechamento anterior / máxima / mínima / fechamento atual respectivamente 16.47 / 16.83 / 15.97 / 16.10 centavos de dólar por libra-peso). No último pregão da semana o real desvalorizou -2.50% (encerrando acima dos 5.50 R$/US$) e o petróleo WTI -4.25% (encerrando abaixo dos 59.00 US$/barril). No curto prazo o vencimento março-26 encontra suporte apenas nos 15.85 centavos de dólar por libra-peso e resistências a 16.35 / 16.67 / 16.99 e 17.49 centavos de dólar por libra-peso.