Usina Olho D'Água: pioneirismo e produtividade
05-09-2025

Decisão de investir em irrigação transformou a Usina Olho D'Água, garantindo a viabilidade do negócio - Foto: Divulgação
Decisão de investir em irrigação transformou a Usina Olho D'Água, garantindo a viabilidade do negócio - Foto: Divulgação

Pioneira na irrigação na cultura canavieira da Zona da Mata Norte de Pernambuco, a Usina Olho D'Água irriga 15 mil ha dos seus 21 mil ha plantados com cana-de-açúcar

Por Danielle Santana

Com um planejamento iniciado ainda nos anos 2000, a Usina Olho D’Água se destaca como pioneira na irrigação na cultura canavieira da Zona da Mata Norte de Pernambuco. 
Hoje vista como essencial para a manutenção da viabilidade do negócio, a atividade entrou no planejamento do Grupo Olho D’Água após o enfrentamento de uma grande seca na década de 90. Naquele período, a estiagem que quase dizimou o canavial foi vista como alerta para a necessidade da transformação. 

“Nós tivemos uma dificuldade no passado que fez com que o grupo começasse a entender que o negócio não seria viável sem a irrigação. Estamos localizados em uma região de transição da Zona da Mata para o Agreste. Por isso, os índices pluviométricos são muito ruins”, comenta o diretor agrícola do Grupo, Ricardo Kleber Braga Gonçalves.

Ao relembrar o momento, Ricardo observa que a redução significativa na produtividade foi vista com enorme preocupação. “Tivemos uma produtividade muito baixa, chegando abaixo de 30 toneladas por hectare. Não poderíamos seguir com um negócio com esse nível de produtividade”, pontua.

A Usina Olho D’Água possui 15 mil ha irrigados dos seus 21 mil ha cultivados com cana

Foto: Divulgação

Nesse momento, a decisão de investir na irrigação foi o pontapé que transformou o negócio. No entanto, outros desafios foram enfrentados no percurso. Como está localizada na Zona da Mata de Pernambuco, a Usina Olho D‘Água também precisou enfrentar a escassez de recursos hídricos por causa dos rios intermitentes que cortam a região. Como os cursos de água secam no verão, a obtenção de recursos hídricos se tornava ainda mais dificultosa. 

“Quando a nossa diretoria, especialmente o nosso patriarca, dr. Murilo Tavares de Melo, resolveu investir em irrigação, tivemos que ‘fazer água’ por meio da construção de reservatórios. Realizamos investimentos altíssimos em adutoras, redes elétricas e equipamentos para irrigação. A partir daí, não paramos mais”, afirma Ricardo Kleber.

Durante o primeiro momento, a implantação da irrigação aconteceu por meio do sistema de aspersão (borrifar água) e com o objetivo de não perder a soqueira (resíduos de raízes). O sucesso da mudança permitiu um aumento da longevidade dos canaviais, além de manter um bom manejo de colheita. Com o trabalho inicial finalizado, o Grupo passou a priorizar a irrigação como uma atividade que garante a continuidade do negócio.

“Hoje ela é, sem dúvida, a atividade mais importante dentro da cana-de-açúcar. Nosso sistema começou a entrar em ação no ano de 2002, quando estávamos mais estruturados. Começamos irrigando em torno de 7.000 dos 12 mil hectares que nós cultivávamos”, destaca o diretor.

EXPANSÃO

Com o bom resultado obtido, a irrigação possibilitou o avanço do plantio para áreas onde o cultivo de cana não era viável. Dessa forma o Grupo conseguiu expandir a área total de plantio. “Agora nós temos 21 mil hectares cultivados, sendo 15 mil deles irrigados”, aponta o diretor.

O investimento trouxe outros grandes retornos, com uma redução significativa do índice de perda de soqueira. Consequentemente, o índice de reforma dos canaviais também se tornou mais baixo, o que faz com que a Usina Olho D’Água conte com um canavial mais longevo, o que gera uma importante economia.

“Nós colhíamos em torno de 1,2 milhão de toneladas de cana no início da década de 2000. Desse total, cerca de 50% eram próprios e outros 50%, dos fornecedores passivos. Hoje, colhemos 2 milhões de toneladas, sendo em torno de 1,250 milhão próprios e 750 mil de fornecedores”, contabiliza o diretor.

Para chegar no resultado expressivo foi preciso realizar investimentos em diversas áreas, incluindo desde a ampliação da irrigação até a criação de reservatórios e sistemas de adutoras. Além disso, a empresa também realizou a construção de sete barragens, sendo a maior delas com capacidade de 20 milhões de metros cúbicos. 

Recentemente, com o objetivo de otimizar os resultados, o Grupo também começou a trabalhar com um sistema de irrigação de gotejamento subterrâneo. “É um sistema onde você otimiza o uso da água e não há desperdício, nem perda por escorrimento. Nele, além de irrigar, você também dá nutrição à cana porque são injetados fertilizantes dentro do sistema, proporcionando altíssima produtividade. Com esse sistema de gotejamento nossa produtividade gira em torno de 140 toneladas por hectare”, comenta Ricardo Kleber.

VIABILIDADE

Na visão do diretor, os investimentos garantiram a viabilidade da Usina. “A irrigação nos deu vida e fez com que nós conseguíssemos manter o nosso negócio”, avalia.

Assim como toda mudança realizada dentro do Grupo, o novo sistema foi avaliado por um departamento técnico que testa as novas tecnologias em campos experimentais. O processo inclui a avaliação de novas variedades de cana, uso de produtos biológicos ou outras etapas da produção.

Entre os benefícios observados com a ampliação da irrigação, os destaques ficam com o aumento da área de cultivo e possibilidade de uso de cultivares mais produtivos, fatores vistos pelo diretor agrícola como essenciais para a garantia de um maior rendimento em açúcar por hectare já que permite o uso de variedades mais ricas.

“A irrigação te dá a oportunidade de crescer em ambientes mais restritivos onde antes você não cultivava. Isso com uma produtividade razoável. As tecnologias mais importantes dentro de um sistema produtivo de cana-de-açúcar são a irrigação, a variedade e o bom manejo. Com isso você consegue manter uma boa produtividade e ser competitivo no mercado”, observa. Outra grande vantagem é no aumento da longevidade do canavial.

Segundo Ricardo, o primeiro passo para realizar o investimento em irrigação é montar um plano diretor. “Ele é necessário para saber onde você quer chegar e em quanto tempo você quer chegar. Também é preciso montar um bom estudo hidrológico para saber se o reservatório é capaz realmente de suprir suas necessidades”, lista o diretor. Outra necessidade é realizar o treinamento dos funcionários. Por fim, também é necessário um estudo da qualidade da água. “Hoje, sem irrigação, ninguém mais se arrisca a plantar cana”, finaliza.


fonte: Folha de Pernambuco