Uso de pré-maturadores pode entregar incrementos entre 1.000 a 3.500 kg de açúcar a mais por hectare
20-02-2020
É o que aponta pesquisa da UNESP que analisa os efeitos da utilização de complexos nutricionais aplicados na pré-maturação da cana associado à maturadores e seus benefícios nos números finais de ATR, TCH e TAH
Texto e fotos: Leonardo Ruiz
Na região Centro-Sul do Brasil, o setor sucroenergético se prepara para retomar a moagem de cana. É nessa época que mais se aplica os maturadores (reguladores de crescimento), em decorrência do índice pluviométrico elevado e das condições de temperatura altas, provendo condições ótimas para o pleno crescimento vegetativo da cultura.
Neste momento, os maturadores têm a função de aumentar o teor de sacarose da planta, já que atuam na mudança da rota metabólica da mesma. Dessa forma, uma grande parcela do açúcar produzido será destinada ao armazenamento nos colmos, e não ao crescimento.
Mas, e se fosse possível aumentar a capacidade da planta em produzir sacarose para que, quando se utilizasse o maturador, houvesse muito mais açúcar para ser acumulado e a cana pudesse continuar crescendo, mesmo que timidamente?
É o que pretende definir uma pesquisa da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), campus de Botucatu. O grupo de estudos liderados pelo professor Carlos Alexandre Costa Crusciol analisa os efeitos da utilização de complexos nutricionais aplicados na pré-maturação da cana-de-açúcar associado à maturadores e seus benefícios nos números finais de ATR (açúcares totais recuperáveis), TCH (toneladas de cana por hectare) e TAH (toneladas de açúcar por hectare).
Os nutrientes são os grandes responsáveis pela síntese, transporte e acúmulo de sacarose na cana-de-açúcar. São eles os ativadores enzimáticos da planta, suportando e aumentando o processo fotossintético. Um dos fatores que limita o potencial de produtividade de açúcar pela cana é o desequilíbrio nutricional, bem como a baixa disponibilidade dos nutrientes na fase final do ciclo da cultura (pré-maturação e maturação da cana).
A grande sacada da pesquisa da UNESP é a seguinte: se aumentar o processo fotossintético da planta - através de uma adubação foliar equilibrada realizada na fase de pré-maturação e/ou na fase maturação -, a produção de sacarose será aumentada. Dependendo da época do emprego deste manejo, a sacarose produzida poderá ser destinada ao crescimento e/ou ao acúmulo. Os pré-maturadores, portanto, teriam a função de aumentar a produção de sacarose e, os maturadores, de destinar essa sacarose produzida ao armazenamento.
Um dos integrantes da pesquisa, o mestre em Energia na Agricultura da FCA/UNESP Botucatu, Cleber de Morais Hervatin, explica que a utilização dos pré-maturadores consiste em estimular a produção de mais metabólitos destinados a formação de sacarose, aumentando o potencial de resposta dos maturadores caso necessário e, assim, acumular mais açúcar.
Ele afirma que a utilização desta nova modalidade de manejo em pré-maturação pode incrementar a produtividade dos colmos de 5 a 20 TCH e de 1 a 4 kg de ATR quando comparada com a utilização do maturador isoladamente. “Vários fatores influenciam na obtenção de tais resultados, sendo o principal deles a qualidade dos produtos. Hoje, a tecnologia embarcada nos complexos nutricionais faz toda diferença na deposição na superfície da folha, na absorção e na translocação desses nutrientes na planta.”
As pesquisas com pré-maturação foram iniciadas no ano de 2017 em vários grupos sucroenergéticos do Brasil, com aplicações para canas de início, meio e final de safra
Hervatin ressalta, ainda, que vários dos produtos utilizados na pesquisa com pré-maturadores possuem hormônios, ácidos orgânicos e aminoácidos em suas composições. “A utilização deles em meio de safra tem aumentado a tolerância ao estresse hídrico, refletindo em maior eficiência fisiológica da planta sobre esta condição de estresse com maior produtividade, tendo como consequência maior estabilidade produtiva com incremento de ATR e TCH.”
As pesquisas com pré-maturação foram iniciadas no ano de 2017 em vários grupos sucroenergéticos do Brasil, com aplicações para canas de início, meio e final de safra. Os resultados obtidos até o momento evidenciam os períodos mais propícios para aplicação dos pré-maturadores. Em canas precoces e médias, esse período vai de 60 a 120 dias antes da colheita. Em canas tardias, os resultados dos estudos ainda estão sendo analisados para a determinação da melhor época de aplicação.
“Os resultados obtidos refletem os constatados num projeto conduzido pelo Prof. Crusciol na América Central. Contudo, a magnitude de respostas nas condições brasileiras é bem mais expressiva, pois estamos obtendo incrementos entre 1.000 a 3.500 kg de açúcar a mais por hectare”, destaca Hervatin.
Fonte: CanaOnline

