Veículos elétricos batem recordes globais, mas mudanças nos EUA freiam expectativas futuras
27-06-2025

China domina cenário mundial enquanto incertezas políticas norte-americanas desaceleram projeções; BNEF revisa perspectivas de longo prazo no setor automotivo
O mercado global de veículos elétricos (EVs) está a caminho de alcançar um novo marco: cerca de 22 milhões de unidades vendidas apenas em 2025, segundo o Electric Vehicle Outlook (EVO) mais recente da BloombergNEF (BNEF). Isso representa um salto de 25% em relação ao ano anterior, impulsionado pela queda nos preços das baterias de íon-lítio e pela ampliação da oferta de modelos mais acessíveis. A China lidera o avanço, com quase dois terços dessas vendas, enquanto Europa e Estados Unidos respondem por 17% e 7%, respectivamente.
A rápida expansão não se limita a economias desenvolvidas: mercados emergentes como Tailândia e Brasil registram crescimento vigoroso, puxados pela competitividade das montadoras chinesas. Neste cenário, o domínio da China se consolida ainda mais, com 69% de todos os EVs vendidos no mundo em 2024 sendo fabricados no país asiático. As vendas de veículos elétricos chineses nesses países já superam as dos Estados Unidos em alguns casos.
Apesar do otimismo global, a BNEF reavaliou pela primeira vez suas projeções futuras para os EVs de passageiros, tanto a curto quanto a longo prazo. A revisão tem como base mudanças regulatórias nos EUA, incluindo o enfraquecimento de padrões federais de eficiência, a suspensão de créditos fiscais para EVs e possíveis restrições à autonomia da Califórnia em definir regras ambientais. Com isso, a estimativa de vendas acumuladas entre 2025 e 2030 foi reduzida em 14 milhões de unidades. Ainda assim, espera-se que as vendas anuais nos EUA subam de 1,6 milhão em 2025 para 4,1 milhões em 2030.
China dispara; EUA recuam
O cenário atual coloca a China não apenas como líder, mas como pioneira em tornar os EVs mais baratos que os veículos a combustão (ICE). Já o Reino Unido supera a Alemanha e se consolida como o país com maior adoção de elétricos na Europa.
A nova projeção da BNEF, no chamado Cenário de Transição Econômica (ETS) – que desconsidera novas políticas e considera apenas as tendências atuais de mercado – indica que os Evs representarão 56% das vendas globais até 2035 e 70% até 2040, número inferior aos 73% estimados anteriormente. Contudo, isso ainda não será suficiente: apenas 40% da frota global será elétrica até 2040, insuficiente para alinhar o setor ao cenário Net Zero de emissões.
Segundo Colin McKerracher, principal autor do relatório, “2024 marcou um ponto de inflexão para o transporte elétrico”, mas reforça que as políticas norte-americanas ameaçam esse ritmo. “A retração dos EUA pode impactar diretamente toda a cadeia global de suprimentos, desde montadoras até fabricantes de baterias”, aponta.
Superoferta de baterias e guerra de preços
A demanda por baterias para EVs também será impactada: a projeção da BNEF para 2025–2035 caiu 8% em relação ao ano passado, ou 3,4 TWh a menos, sendo 2,8 TWh atribuídos à queda nas vendas norte-americanas. Isso resulta em excesso de capacidade de produção, principalmente na China, onde a taxa média de utilização das fábricas de baterias já está abaixo de 50%. Esse excedente pressiona os preços para baixo e aumenta a competição.
Ainda assim, o crescimento da demanda por metais usados na produção de baterias continua robusto. As baterias de estado sólido, por exemplo, já se posicionam como promissoras, com expectativa de representar 10% da demanda global até 2035, especialmente nos segmentos premium e de alta performance. Mais de 830 GWh de capacidade anual foram anunciados, mas apenas 9,5% estão em operação real – e a maioria com tecnologia semi-sólida.
Custo da recarga pública é novo entrave
Outro desafio em ascensão é o custo elevado da recarga pública. Embora a maioria dos usuários carregue seus veículos em casa, com custos 25% a 60% menores que o da gasolina, os preços da recarga rápida pública aumentaram acentuadamente desde 2022, principalmente na Europa e nos EUA. Em alguns casos, o custo por quilômetro já ultrapassa o dos veículos a combustão, prejudicando a paridade de preços e tornando o acesso à infraestrutura uma questão central.
Aleksandra O'Donovan, responsável pelo segmento de veículos elétricos na BNEF, reforça: “Políticas estáveis e previsíveis são indispensáveis. Ignorar a tendência de eletrificação será fatal para as montadoras no longo prazo.”
Destaques do EVO 2025
Veículos com autonomia estendida (e-REVs) devem crescer 83% em 2024, alcançando 1,2 milhão de unidades. Com baterias de 38 kWh e autonomia média de 170 km, mais de 70% do uso é feito no modo elétrico.
China lidera também em caminhões elétricos, que devem representar 46% das vendas em 2030, com apoio governamental e forte queda de custos.
Triciclos elétricos já atingem mais de 80% das vendas, sendo o primeiro segmento de transporte a se alinhar totalmente ao cenário Net Zero.
A frota global de EVs consumirá cada vez mais energia: só os veículos chineses já demandam mais eletricidade que países inteiros como a Suécia, e a demanda global deve aumentar 2,4 vezes até 2030.
A transição impacta o mercado de petróleo: até 2026, estima-se que os EVs evitem o consumo de 1 milhão de barris por dia, chegando a 5,3 milhões por dia em 2030.
Países como Noruega (2030), China (2033), Califórnia (2037) e Alemanha (2039) devem ver suas frotas de elétricos superando os veículos a combustão nas próximas décadas.
O mercado de recarga pública tende a explodir: deve passar de US$ 10 bilhões em 2025 para US$ 220 bilhões em 2040 na Europa e América do Norte.