Venda de ativos da Raízen só deve gerar caixa no 2º trimestre
05-08-2025

Moagem de cana mais fraca também deve impactar resultado financeiro da Raízen — Foto: Globo Rural
Moagem de cana mais fraca também deve impactar resultado financeiro da Raízen — Foto: Globo Rural

Aprovação da venda da Usina Leme ao grupo Ferrari e à Agromen pelo CAde só foi oficializada em 2 de julho; moagem em baixa deve pesar sobre resultado financeiro do 1º trimestre

Por Camila Souza Ramos — São Paulo

A divulgação dos resultados do primeiro trimestre da safra 2025/26 pela Raízen, no próximo dia 13, é aguardada com certo pessimismo no mercado, principalmente depois que a companhia divulgou dados fracos de sua operação no período. Além disso, a empresa ainda não havia recebido até o fim de junho recursos de seu esforço de vendas de ativos. Procurada, a Raízen não comentou.

Em maio, a companhia vendeu a Usina Leme para o grupo Ferrari e a Agromen, mas a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) só foi oficializada em 2 de julho, no segundo trimestre da safra. A venda do ativo, que envolveu a indústria e os canaviais por R$ 425 milhões, estava sujeita à aprovação da autarquia e a condições precedentes.

Sem esse recurso, a Raízen deve ter registrado um prejuízo de R$ 311 milhões, estima o BTG Pactual. Segundo os analistas Thiago Duarte e Guilherme Gutilla, que assinam relatório recente do banco, o que deve penalizar o resultado são as despesas financeiras, já que o capital de giro costuma ter mais peso no primeiro trimestre da safra de cana. O banco estima que a alavancagem subiu para 4,7 vezes no período. Um ano antes, a joint venture entre Cosan e Shell teve lucro de mais de R$ 1 bilhão.

O resultado também deve refletir a queda de 21% na moagem de cana-de-açúcar na comparação anual. A empresa atribuiu a redução às chuvas mais frequentes, que atrasaram a colheita. Porém, a produtividade dos canaviais também recuou. Com isso, a menor moagem, além de reduzir a receita, também dificulta a diluição dos custos fixos, como reconheceu a empresa em sua prévia operacional.

Desde que divulgou seus resultados operacionais do trimestre, em 24 de julho, as ações da Raízen caíram 7,95%. Isso representou uma perda de valor de mercado de R$ 1,2 bilhão, segundo o Valor Data. No ano, a companhia já perdeu R$ 8 bilhões em valor de mercado.

Além da venda da Usina Leme, a Raízen já acertou a venda dos canaviais que abasteciam a Usina Santa Elisa por R$ 1,045 bilhão em meados de julho, além de 55 usinas de geração distribuída à Thopen Energia e o Grupo Gera por R$ 600 milhões. Em 12 meses, a companhia já acertou a venda de R$ 2,9 bilhões em ativos, segundo o BTG.

A primeira venda de ativos da Raízen foi a das plantas de energia fotovoltaica por R$ 475 milhões, seguida dos canaviais que abasteciam a Usina MB à Usina Alta Mogiana, por mais de R$ 380 milhões. O valor dessas duas vendas entrou no caixa na safra passada.

A companhia ainda tem mais usinas à venda, além do negócio de combustíveis na Argentina e de combustíveis de aviação, e deve depender da transação desses ativos para gerar caixa na safra. Caso não se desfaça de mais ativos, a Raízen pode encerrar mais um ciclo com queima de caixa. É o que estima o BofA, que avaliou em relatório que a empresa pode ter uma redução de R$ 2,3 bilhões em caixa nesta safra se não vender mais ativos.

Por outro lado, o BofA estima que a companhia poderia levantar de US$ 10 bilhões a US$ 17 bilhões caso venda todos os ativos que pretende, sendo o negócio de distribuição na Argentina o de maior peso. Ao mesmo tempo, é o negócio com maior custo de capital, estimado pelo BofA em 27,4%

Fonte: Globo Rural