Volkswagen inicia nova era de eletrificação no Brasil com produção de híbridos flex a partir de 2026
03-11-2025
Marca aposta em sistemas MHEV, HEV e PHEV nacionais, motor 1.5 TSI Evo2 e biocombustíveis como vetor de descarbonização
A Volkswagen do Brasil deu início oficial ao ciclo de eletrificação da sua linha de veículos na América do Sul. A partir de 2026, todos os novos modelos desenvolvidos na região terão versões eletrificadas, combinando tecnologias mild-hybrid (MHEV), híbrido convencional (HEV) e plug-in hybrid (PHEV). O plano, que marca o início de uma nova era para a montadora, prioriza o uso de etanol como combustível principal, aproveitando a infraestrutura já existente e o potencial brasileiro para a descarbonização do transporte.
O primeiro veículo dessa nova fase será produzido na fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo - SP, utilizando a plataforma MQB37, derivada da MQB-A1 — base que sustenta modelos como o Golf e o Tiguan. Essa arquitetura foi projetada para receber sistemas híbridos flex, algo que a atual MQB27 (MQB-A0), usada em modelos como T-Cross e Polo, não permitia. O objetivo é viabilizar a integração de conjuntos elétricos e de combustão adaptados ao etanol, com gerenciamento energético compatível com as normas brasileiras de emissões e ruído.
De acordo com a Volkswagen, o sistema HEV flex utilizará um motor a combustão interna otimizado para o etanol, acoplado a um gerador elétrico capaz de operar de forma combinada ou independente. A energia será recuperada nas frenagens e armazenada em uma bateria de íons de lítio de baixa capacidade, seguindo o mesmo conceito de híbridos plenos utilizados na Europa. O desenvolvimento do software de controle e da calibração será conduzido pela engenharia local da VW, com suporte da matriz alemã.
Entre os pilares técnicos do projeto está o novo motor 1.5 TSI Evo2, evolução do atual 1.4 turbo, produzido em São Carlos – SP. O propulsor traz melhorias em eficiência energética, com turbocompressor de geometria variável, injeção direta a 350 bar, desativação de cilindros e operação em ciclo Miller. A tecnologia será usada tanto em sistemas híbridos plenos quanto leves, e permitirá à marca ampliar a autonomia e reduzir o consumo de combustível em até 15% em comparação aos motores atuais.
A Volkswagen também terá híbridos leves (MHEV) equipados com gerador elétrico substituindo o alternador, capaz de fornecer torque adicional em acelerações e retomadas. A montadora estuda ainda trazer o sistema MHEV Plus, desenvolvido pela Audi, que oferece resposta mais próxima à de um híbrido tradicional. Já os modelos de maior porte e valor agregado adotarão sistemas PHEV, com baterias de maior capacidade e autonomia superior a 50 km em modo 100% elétrico, algo que a VW já havia testado no Golf GTE.
Para financiar a fase de transição tecnológica, a Volkswagen contratou R$ 2,3 bilhões em crédito com o BNDES, por meio da linha Mais Inovação. Os recursos serão destinados à implantação das tecnologias híbridas na planta Anchieta, à pesquisa de sistemas ADAS (assistência avançada ao condutor) e à modernização dos sistemas de conectividade e infotainment. Parte do montante também apoiará o aumento das exportações, reforçando a posição da empresa como a maior exportadora do setor automotivo brasileiro, com mais de 4,4 milhões de veículos enviados para 147 mercados desde 1970.
O plano faz parte do ciclo de investimentos de R$ 20 bilhões até 2028, sendo R$ 16 bilhões destinados ao Brasil, que contempla 21 novos produtos para a América do Sul, dos quais 17 serão lançados no mercado brasileiro. O objetivo é consolidar a base tecnológica da marca para a transição energética regional, aproveitando a sinergia entre eletrificação e biocombustíveis.
Na cerimônia de anúncio, realizada na semana passada, na fábrica Anchieta com a presença de Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, o CEO da Volkswagen do Brasil, Ciro Possobom, destacou que a empresa está entrando em uma nova etapa industrial.
“Tem início uma nova era de eletrificação da Volkswagen do Brasil. Teremos uma linha completa de híbridos — leves, plenos e plug-in — desenvolvidos localmente. Nosso compromisso é democratizar o acesso a tecnologias avançadas de segurança, conectividade e eficiência energética”, afirmou o executivo.
A plataforma MQB37 será a base para os próximos lançamentos, começando com o T-Cross híbrido em 2026 e o Nivus híbrido em 2027, ambos com conjuntos propulsores eletrificados e calibrados para o etanol. Esses modelos marcam a introdução do conceito HEV flex, que poderá ser estendido a outros veículos da marca nos próximos anos.
O investimento também contempla projetos de conectividade e digitalização. Segundo a empresa, o desenvolvimento de novas interfaces e plataformas eletrônicas faz parte da estratégia de democratizar o acesso a tecnologias de segurança, como ADAS, sistemas de monitoramento de faixa, frenagem autônoma e controle adaptativo de velocidade. A VW já possui o portfólio mais seguro da América Latina, com modelos como T-Cross, Nivus, Virtus, Jetta e Taos recebendo nota máxima de segurança (5 estrelas) nos testes do Latin NCAP.
A sustentabilidade é outro eixo central do projeto. A Volkswagen mantém o compromisso de neutralizar suas emissões de carbono até 2050, alinhada à estratégia global Way to Zero, sendo a primeira montadora do mundo a assinar o Acordo de Paris. Todas as suas fábricas no Brasil — Anchieta, Taubaté, São Carlos e São José dos Pinhais — utilizam energia 100% renovável certificada pelo I-REC, e todas foram reconhecidas com o certificado Lixo Zero, que atesta a destinação ambientalmente correta dos resíduos.
A fábrica Anchieta também abriga o Way to Zero Center, núcleo de engenharia dedicado ao desenvolvimento de tecnologias de baixa emissão, em parceria com universidades e startups. Além disso, a montadora foi pioneira no uso de biometano em parte de seu processo produtivo, reduzindo em até 99% as emissões de CO₂ em comparação a fontes fósseis.

