Workshop realizado pela CropLife capacita servidores no combate ao mercado de agrotóxicos ilegais
10-10-2025

Encontro reuniu mais de 150 especialistas e agentes de fiscalização, em Campo Grande - MS

A CropLife Brasil (CLB), em parceria com a Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (FAMASUL), o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), a Polícia Federal (PF) e autoridades, promoveu nesta quarta-feira (08), o Workshop de Combate ao Mercado Ilegal de Agrotóxicos e Insumos Agrícolas, em Campo Grande (MS). Voltado a servidores da segurança pública e de fiscalização que atuam no agro, o evento reuniu 158 especialistas e agentes para capacitação e debate sobre estratégias de enfrentamento ao crime, além de promover a mobilização conjunta de instituições públicas e privadas no enfrentamento a prática ilícita.

A iniciativa ocorre em um momento em que os casos de bebidas adulteradas com metanol, que provocaram intoxicações e mortes no país, reacenderam o debate sobre os impactos da pirataria em diferentes setores da economia. No agronegócio, a estimativa do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF) é que cerca de 25% do mercado de insumos agrícolas no Brasil opera à margem da lei.

Ao longo da imersão, os participantes receberam treinamento técnico sobre o funcionamento do mercado ilegal no agro e seus impactos em toda a cadeia produtiva. Dentre os temas abordados estiveram: identificação e diferenciação de produtos contrabandeados e falsificados; legislação, fiscalização e registro de agrotóxicos e insumos agrícolas; rastreabilidade da cadeia ilícita e linhas de crime agrícola; impactos da pirataria - tanto na escala industrial, quanto para o produtor; além de orientações sobre canais e meios de formalização de denúncias.

"O fenômeno dos mercados ilícitos de insumos agrícolas é um problema de alcance mundial, presente em países de diferentes níveis de produtividade. No Brasil — um dos principais produtores de commodities agrícolas, autossuficiente em sua produção e dotado de legislação rigorosa — esse problema atinge percentuais elevados, seja pela entrada de produtos contrabandeados, seja pela falsificação e adulteração no mercado interno. Isso ocorre porque todo setor que concentra grande riqueza e possui um sistema fortemente regulado para controlar a produção, o transporte, a importação, a exportação, o armazenamento e o uso de agrotóxicos acaba despertando o interesse de organizações criminosas, que exploram as vulnerabilidades da fiscalização e se aproveitam do poder de barganha dos produtores", contextualizou Nilto Mendes, gerente de Combate aos Ilegais da CropLife Brasil.

"A gente não quer, de forma alguma, que todo um setor seja penalizado por alguns indivíduos que de fato estejam praticando ações ilícitas. Estamos aqui hoje, neste evento, abertos a discussão e, sobretudo, dispostos a encontrar soluções, representando os bons produtores rurais. Que nós sejamos um dos elos dentro desta cadeia de levar, principalmente, educação e conscientização aos produtores que estão lá na ponta, para que a gente consiga ter um agronegócio pujante, cada dia mais respeitado e dentro da legalidade", considerou a coordenadora representante do Sistema FAMASUL, Tamiris Souza Azoia.

"Ficamos muito lisonjeados em trazer esse tema para discussão, porque ele faz parte da missão do Sistema Famasul de levar conhecimento, formação e contribuir com o desenvolvimento do agronegócio em Mato Grosso do Sul. O agro, que vem demonstrando crescimento expressivo e se destacando no Estado, não pode deixar esse assunto fora do debate. (...) Mitigar riscos com produtos falsificados, sem registro ou sem origem é fundamental para fortalecer a cadeia produtiva e garantir uma agricultura mais segura e sustentável", complementou o superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) de Mato Grosso do Sul, Lucas Galvan, também presente no workshop.

A dinâmica do evento foi dividida em dois momentos: um para apresentação técnica e outra de mesa redonda, para que os servidores tivessem acesso à informações e perspectivas do ponto de vista da academia, da indústria e das autoridades públicas. Dentre os participantes, estiveram atores da Embrapa, Ibama, MAPA, Departamento de Operações de Fronteira (DOF), Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Militar, Polícia Militar Ambiental (PMA), Polícia Civil, Ministério Público (MP), Receita Federal do Brasil (RFB), Escola de Segurança Multidimensional (ESEM) da USP, Secretarias de Estado do MS, além dos correalizadores e especialistas da indústria de insumos agrícolas agrícola.

Docente do Programa de Formação no Combate aos Mercados Ilícitos de Insumos Agrícolas e do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da Escola de Segurança Multidimensional (ESEM) da USP, Profº Leandro Piquet Carneiro (Foto: Bruna Caetano/ CLB)

Durante o encontro, o representante da Superintendência de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul e auditor fiscal federal, Marcelo Bressan, fez uma demonstração do espectrômetro, ferramenta do MAPA que faz análise rápida de amostras de agrotóxicos ilegais. Com o equipamento, é possível identificar se o determinado produto apresenta adulteração, dentre outras atribuições.

"Nós temos um problema e vimos que várias das ações caminham para a mesma direção. O problema é intrincado, complexo e atinge todas as agências de fiscalização e também os produtores. Também é ambiental, é de polícia, é de segurança pública, mas é também um problema comercial e um problema empresarial, que envolve todos esses agentes", considerou o Superintendente regional da polícia federal, Carlos Henrique Cotta D'Angelo, sobre o trabalho da segurança pública.

O evento é uma correalização entre autoridades locais, Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal do MS (IAGRO), além da FAMASUL, MAPA, Polícia Federal e CLB, com apoio institucional da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumo Agrícolas e Veterinários (ANDAV) e do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (InpEV).

O efeito desta prática gera impactos ao cidadão, ao meio ambiente e a economia. Desde exposição do agricultor e produtor a substâncias desconhecidas, riscos de disseminação de pragas e doenças, perda de qualidade das lavouras e contaminação do solo. Até aplicações de sanções legais a produtores, prejuízo na comercialização e inovação industrial de agroquímicos e comprometimento da imagem do agronegócio brasileiro no mercado interno e externo.

Como parte das ações no enfrentamento ao crime e atendimento a demanda de capacitação, a CropLife Brasil possui o Programa de Formação no Combate aos Mercados Ilícitos de Insumos Agrícolas direcionado a agentes de segurança e fiscalização, em parceria com Escola de Segurança Multidimensional (ESEM) da Universidade de São Paulo (USP). O curso é EaD, gratuito e oferece certificação oficial do tema. A inscrições para a 4ª turma estão abertas.

Além disso, a CLB atua de forma contínua para mapear os impactos da pirataria e conscientizar a sociedade, através da Campanha de Boas Práticas Agrícolas, que reúne conteúdos e ações voltados ao uso responsável de tecnologias e ao combate aos ilegais. A associação mantém um canal de denúncias ativo no site, para recebimentos e encaminhamentos.

E, no tripé de ações, a Croplife realiza a destinação ambientalmente adequada de defensivos agrícolas apreendidos pelos órgãos de repressão e fiscalização estaduais e federais. Ao longo dos últimos quatro anos, cerca de 1,4 mil toneladas foram incineradas. Este ano, balanço parcial aponta 212 toneladas de produtos corretamente destinados.